quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

YES, WE HAVE BAÍTA


Walmir Rosário*
Não me lembro bem do ano, mas juro, se minha memória não falha, que o fato aconteceu no início da década de 60, no bairro da Conceição – ainda com aquele jeito suburbano, mas que já demonstrava vocação de desenvolvimento. O fato aqui relatado foi motivo de orgulho para empresários e políticos itabunenses, compenetrados que estavam com a inauguração de uma promissora indústria de cerveja, a Baita.

Os mais novos podem até não entender o motivo desse orgulho, como se tratasse apenas de patriotada. Não, Itabuna iria competir com os estados do Sul e Sudeste, única região do País que detinha a primazia de industrializar cerveja, produto trazido para Brasil pelos alemães, dentre outros europeus.

Agora, sim, Itabuna, o eldorado do cacau, com experiência restrita ao comércio, praticado com sabedoria pelos sírios e libaneses (ou turcos, quando queríamos zombar deles) iríamos partir para a industrialização, competir com o Rio de Janeiro e São Paulo.

O bairro Conceição foi o primeiro 
a sediar uma fábrica de cerveja 
As notícias dadas como manchetes nos jornais locais eram ufanistas (como desenvolvimentistas empedernidos 
que sempre fomos) e já sonhávamos com as chaminés despejando fumaça nos céus. Ao invés da mão-de-obra rural, acostumada a podão e biscó, teríamos operários de macacão apertando parafusos, azeitando máquinas, alimentando caldeiras. Era a glória!

Mas de onde viria essa empresa disposta a investir em Itabuna? O quê esses capitalistas estrangeiros teriam vislumbrado para montar uma indústria dessa magnitude, já que no máximo nos contentávamos com pequenas fábricas de cachaça? Mesmo assim do tipo “rinchona”, baldeando o produto vindo do alambique com álcool comprado em tonéis de 200 litros das usinas de Sergipe e Alagoas, conforme reclamavam os paladares mais exigentes.

Não, não se tratava de investidores alemães ou suíços acostumados aos lucros exorbitantes conseguidos com a compra de cacau e os adiantamentos feitos aos cacauicultores, que geralmente terminava com a entrega das fazendas. Nada disso, em Itabuna existia gente disposta a investir no desenvolvimento local, gente que não destoava de seus antepassados, responsáveis pela grandeza da cidade.

Claro que não eram homens poderosos, coronéis do cacau, acostumados a se meter em outras lides, derrubando matas, plantando cacau, fazendo pasto para colocar gado. Eram duas pessoas simples, trabalhadores, moradores do singelo bairro da Conceição, devotos da santa padroeira e fiéis assíduos das missas rezadas pelos frades capuchinhos Justo, Isaías e Apolônio.

Um, Antônio Vieira, era homem de saberes, professor de línguas – latim, português, francês e inglês – aprendidos no seminário, onde se ordenou padre, tendo deixado o hábito tempos depois, mas isso não importa agora. O outro, Zacarias bem esse já era diferente e tinha pendores (ou know-how, como dizem os americanos) para tal mister, pois detinha conceituados conhecimentos para a fabricação de vinagre.

Embora possa parecer que a ideia de fabricar cerveja tenha partido de Zacarias, a história é bem diferente, e foi justamente o professor Vieirinha quem convenceu o outro a formar sociedade. Mesmo antes de montar a Baita, o professor Vieira já era possuidor de um equipamento cervejeiro doméstico, e não relutava ir ao Rio de Janeiro e São Paulo para comprar malte, lúpulo e outros insumos próprios para o fabrico.

Nos fins de semana em que fabricava sua cerveja caseira era uma festa para os amigos, vizinhos e a garotada, que se transformavam em “pilotos de provas”, entre eles meu irmão Valter Rosário, amigo de seus filhos. Com esse aprendizado foi um pulo comprar equipamento para fabricar a mais legítima cerveja itabunense, baiana. Daí o nome Ba-ita, junção patriótica de Bahia e Itabuna.

Lembro-me como se fosse hoje a chegada dos caminhões com o maquinário e insumos. Uma festa para a garotada, que conferia a todo o dia a montagem da indústria. Aos poucos a fábrica foi tomando corpo, as experiências feitas, até os mestres cervejeiros darem o produto por acabado. Agora era a vez de vender, convencer os donos de bares a comprar a bebida, “filha da terra”, como diziam, arrematando que “não ficava nada a dever à Brahma e Antarctica”.

Como parte do marketing, tinha os frades capuchinhos para abençoar o empreendimento, o prefeito Félix Mendonça e o deputado estadual José de Almeida Alcântara para inaugurar. Neste dia, boa parte da cidade da gente graúda do centro da cidade estava no Conceição. Na hora, foguetes estourando, o professor Vieirinha abre uma cerveja e oferece a Alcântara o primeiro copo. Alegando uma indisposição, coisa de um sarapatel que tinha comido na feira, pegou o seu copo e ofereceu a um amigo que lhe acompanhava.

Era o funcionário do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários (IAPC), o saudoso Manuel Leal, que se tornou o primeiro “piloto de prova” da Baita, numa deferência toda especial do amigo deputado.

Quanto à Baita? Infelizmente não resistiu à concorrência das rivais e terminou sucumbindo. Com isso Itabuna perdeu uma grande oportunidade de se tornar o primeiro polo cervejeiro do Norte e Nordeste, já que Salvador somente anos depois ganhou suas duas primeiras fábricas. Essa é mais uma prova de que somos pioneiros também na fabricação de cerveja.

*Jornalista, advogado e editor do www.ciadanoticia.com.br

Confraria do Alto Beco do Fuxico promove confraternização


Sexta-feira (12 de dezembro de 2012) foi mais uma data histórica para ser inserida nos anais da Confraria do Alto Beco do Fuxico. Tudo isso por mais uma promoção: a confraternização festiva de fim de ano para comemorar o Natal e Ano Novo.

Este ano, a festa sofreu modificações no seu formato, com a retirada dos plenos poderes antes conferidos ao confrade José D’Almeida Senna, conhecido como o Ibrahim Sued do Beco, dada a sua condição de promoter. Despidos dos superpoderes ditatoriais, a pela primeira vez a festa foi realizada com a participação de todos os confrades.

Pra início de conversa, ficou decidido e combinado que a cada grupo de três confrades seria dada a incumbência de providenciar e oferecer um prato para o evento, o que foi considerado bastante positivo. Pela primeira vez, além de “dar um pé-na-bunda” dos intrusos, houve abundância e diversidade gastronômica, com pratos dos mais diversos da culinária nacional e internacional. Já a bebida, como sempre, ficou por conta dos confrades participantes.

Este ano, a confraternização teve a animação de Paulo Maia, nos teclados, participação especial de Rafael Barreto (violão e voz), e saxofone. Entre um papo e outro, a noitada de confraternização rolou até altas horas da madrugada.
Para o ano tem mais!

sábado, 22 de dezembro de 2012

O MUNDO NÃO ACABOU, MAS EU ME LASQUEI!


Walmir Rosário
Em bem sabia que essa família Maya não era de merecer esse crédito todo. Sempre soube que eram uns incompetentes e gostavam de ser o centro das atenções, como uns deles que conheço no Rio de Janeiro e que só sabem fazer política, mesmo assim dizem que não estão mais com essa bola toda.

Ainda ontem (sexta-feira, 21), ouviu falar – à boca-pequena – aqui na “Boca Maldita”, em Curitiba, a confirmação do que já sabia e não levava a sério, de que esses Maya eram uns caras que gostavam de viver nas nuvens, ou pelo menos perto delas. E olha que o povo da “Boca Maldita” não é de jogar conversa fora.

Pelo que consegui escutar, a família Maya se meteu a fazer um calendário e, pelo que consta, não conseguiu sequer acabar (o calendário, é claro), dando a entender ao mundo que o dia 21 de dezembro de 2012 era o fim de tudo. Até eu que nunca levei “esses caras” a sério pensei que estaria com os dias contados.

Também com todo o mundo (ou quase) dizendo que o mundo iria mesmo acabar, não tive alternativa senão entrar no clima. Parecia até copa do mundo da Fifa: tinha data e hora para terminar. Mas qual, quando fui me inteirar direito, nem o ex-presidente Lula sabia e, pior, os cientistas da Nasa desmentiram esses Maya, ponto por ponto.

Essa polêmica só me deu prejuízo: primeiro foi sair por aí comprando tudo que via pela frente com os cartões de crédito, pensando que não iria pagar. Agora vou ter que trabalhar dobrado. Pior do que isso, ao vir comemorar o fim do mundo fora de Itabuna, perdi a comemoração do fim do mundo promovida pela Academia de Letras, Artes, Música, Birita, Inutilidades, Quimeras, Utopia e Etc. (Alambique) no Beco do Fuxico, iniciando no ABC da Noite do Caboclo Alencar e subindo para o Artigos para Beber, já no Alto Beco.

Mas não faz mal, já que o mundo continua mundo e eu vivo, vou comemorar meu desatino em Joinville, onde não falta cerveja da boa, feita de forma artesanal e comida da melhor qualidade. Vou até pedir ao Papai Noel que no próximo ano ele arranje história melhor para ser contada antes do Natal. Quem sabe o “bom velhinho” não me atenda…
Jornalista, advogado e editor do www.ciadanotícia.com.br