sexta-feira, 2 de maio de 2014

BECO DO FUXICO SEM BOTECO…SÓ EM CANAVIEIRAS

Walmir Rosário *
Nada mais enganador do que um título, um nome de rua, ou mesmo de um beco, que não combine com o enunciado. Segundo o Código de Defesa do Consumidor, isso pode ser classificado como propaganda enganosa ou abusiva e como tal deveria ter respaldo jurídico o indigitado que busca as regalias etílicas e gastronômicas num beco com esse nome.
Se, por ventura, não se vislumbre o direito líquido e certo do cliente interessado, que se consagre, pelo menos, a expectativa do direito. E essa relação não se pode ou deve negar ao frequentador desses ambientes bem falados e comentados por toda a sociedade. Mas, querelas à parte, que pelo menos se evite a propagação desses nomes estranhos ao produto, no caso em questão, o Beco.
Mas não é um simples beco. É batizado, crismado e registrado como Beco do Fuxico, portanto, deveria estar acompanhado de todos os atributos inerentes ao nome, como as tendas de serviços prestados pelos profissionais liberais que lidam com artes tanta, a exemplo de barbeiros, sapateiros, alfaiates, bem como empresários de menor porte, como os quitandeiros e donos de botequins. É assim o beco do fuxico em Canavieiras.
Mas nenhum destes senhores pode ser visto nas vetustas casas desse indigitado beco, localizado em pleno centro da cidade, caminho mais curto de quem busca a “passarela do álcool” tida e havida no sítio histórico, lá pras bandas do cais do porto. Caso o cliente – ou paciente – já venha necessitando recompor os líquidos perdidos numa empreitada qualquer, vai ficar na mão.
Definitivamente, o tal do beco do fuxico (grafado propositadamente com letras minúsculas) não é o menor e melhor caminho entre duas retas. Ao contrário, deve ser considerado um caminho tortuoso, perigoso e estranho a qualquer consumidor das iguarias etílicas. Melhor buscar outras rotas, pois ali não encontrará abrigo algum para satisfazer as necessidades do corpo e da alma.
Exemplo mais vivo e vibrante pode ser visto e vivenciado em Itabuna, no Beco do Fuxico, este grafado com iniciais maiúsculas, como manda as regras da Língua Portuguesa, que em pretéritos dias de glórias era dividido em alto beco, médio beco (já extinto, etilicamente falando) e alto Beco. Lá, do ABC da Noite aos Artigos Para Beber, passando pela Confraria do Alto Beco do Fuxico, desfilam garbosamente os apreciadores da arte de levantamento de copo.
Caso buscasse antes uma informação, teria feito uma parada estratégica pelas bandas da rua 13 – que embora as placas nomeie personalidades outras não levadas a sério –, ai, sim teria encontrado o aconchego do tamanho de sua necessidade. Embora seja rua larga e asfaltada, não é o local mais apropriado para a prática das culturas etílicas, não afeita à alta velocidade dos carros, motos e bicicletas e sim ao bate-papo tranquilo e gostoso de uma mesa de bar.
Como para um bom bebedor meia dose não basta, tive que estacionar no passeio da Bomboniere Lua de Mel, sentado a uma confortável cadeira, lata de cerveja na mão, meota de cachaça embaixo dela, longe das vistas de quem não a aprecia e poderia, ainda sair denegrindo a boa imagem da canjebrina ou dos meus bons costumes. E não é por falta de opção. Se por acaso tivesse eu a verve de um Castro Alves diria que bares são semeado à mão cheia, mesmo sem ser um bendito.
Inconformado com tal situação, já propus aos conhecedores da arte de aturar pileques que se debruçassem – não sobre a mesa – ao estudo da possibilidade de abrir desses estabelecimentos que comercializam bebidas e petiscos em artéria de nome tão cativante. E, pelos meus cálculos, não seria um negócio ruim, daqueles praticados pelos dirigentes da Petrobras em Pasadena, pois seria bem fácil arregimentar uma carteira de bons clientes.
Um deles, o José Cloves, está revendo os manuais de administração e já começa a elaborar um plano de negócio para dar cabo a hercúlea empreitada. Agora que busca a reconhecida gratidão após anos de trabalho, nada mal para um ilustre aposentado se livrar da inatividade. Até porque tem prática do serviço e pode se dar ao luxo ao rechaçar a negativa de um cliente em aceitar uma cerveja servida em sua mesa sem que ele tenha pedido, retrucando em alto e bom som.
– Não quer não, pois então a Casa aceita! – E enche o copo até passar a régua.
Confesso que se tal empreendimento venha a ser concretizado faremos uma festança de inauguração com direito a uma reunião de trabalho da Academia de Letras, Artes, Música, Birita, Inutilidades, Quimeras, Utopias e Etc. (Alambique). O presidente Daniel Thame só aguarda a data.
* Apreciador da bela arte