É duro reconhecer, mas o itabunense é mal-educado, o baiano também. Idem para cariocas, paulistas, cearenses... Somos todos mal-educados, do Oiapoque ao Chuí
Trouxa, cretino e otário são os únicos adjetivos públicáveis que um raivoso admirador de “Minha Eguinha Pocotó” (é só o que posso deduzir) me atribuiu, via e-mail, na semana que passou. Os outros prefiro não dizer, até porque correria o risco de escandalizar as almas mais sensíveis que porventura tenham tempo e paciência suficientes para ler estas mal traçadas. O motivo de tanta irritação, percebi com algum esforço no texto rudimentar, foi o comentário que assinei, semana passada, a respeito do excesso de barulho que atormenta os viventes da velha Itabuna cansada de guerra. Depois de garantir que continuará provocando quanta zoada quiser (a rua é pública, lembrou), o moço terminou com um argumento que certamente considera irrespondível: “Os incomodados que se mudem”.
Contestar ponto de vista tão... primitivo, digamos assim, certamente não seria tarefa difícil para ninguém minimamente civilizado, mas me contento em avisar ao meu feroz inimigo virtual que vibrei com a raiva dele e os seus insultos... Na verdade, foram um bálsamo para minh’alma sofrida (não resisti à tentação de repetir o pregador dos meus domingos na Universal). Explico a razão de tanta felicidade: ainda que involuntariamente, consegui irritá-lo, e para valer, coisa que gente como ele, com o gosto sádico que tem pelo desrespeito aos direitos alheios, me faz o tempo todo – e impunemente. Senti o doce sabor da vingança, afinal.
Mas, até por uma questão de justiça, devo reconhecer que o meu recém-conquistado desafeto não é uma ilha de estupidez e intolerância em meio a um oceano de cidadãos civilizados e ordeiros. Pelo contrário, pessoas assim são facilmente encontradas em todas as camadas sociais e com os mais variados níveis de instrução. É duro ter de reconhecer, mas o itabunense é mal-educado. O baiano também. Idem para cariocas, paulistas, cearenses e demais naturalidades da pátria amada idolatrada. Exceções existem, claro, mas presumo que insignificantes estatisticamente. Somos mal- educados do Oiapoque ao Chuí, em maior ou menor grau. Quem duvidar, que fique 15 minutos na fila de um banco e com certeza verá pelo menos um malandro ou dois passar descaradamente à sua frente.
Também será muito didático permanecer algum tempo nas proximidades de um semáforo. É inacreditável o número de carros e motos que avançam o sinal vermelho sem o menor constrangimento. Dane-se o pedestre! Falei pedestre? Quantos atravessam a rua na faixa apropriada? Ou esperam a luz verde acender? O tamanho da deseducação pode ser percebido em praticamente qualquer lugar: no cinema (mauricinhos e patricinhas não desgrudam dos celulares), na sujeira largada pelas calçadas, na barulheira insuportável, na enorme quantidade de orelhões danificados pelos vândalos... A lista é interminável.
Disse que somos mal-educados? Mas não esqueçamos a corrupção verde-amarela, providencialmente batizada com um termo ameno: esperteza (ou jeitinho brasileiro). Subornar o guarda que aplica uma multa, recorrer a um pistolão para conseguir favores indevidos, utilizar em benefício próprio os recursos da empresa onde trabalha... tudo isto é feito com imensa naturalidade. Recentemente procurei os serviços de um conceituado neurologista itabunense, mas pedi uma nota fiscal com o valor da consulta (tentaria conseguir o ressarcimento do plano de saúde). A gentil recepcionista me avisou: sem nota, é um preço. Com nota, é outro, e mais alto, logicamente.
Imagino o ilustre doutor tomando uma cervejinha com os amigos enquanto destila a sua revolta contra a corrupção... em Brasília, claro! Aliás, é uma mania nacional falar dos sacripantas e golpistas como se eles fossem alienígenas desembarcados aqui depois de uma viagem inter-galática. Mas a autoridade que se omite ou se vende, o policial que vira bandido, o médico que lesa o fisco ou o político ladrão são feitos exatamente da mesma argamassa que nosotros. São povo... Em última análise, somos nós! (Sim, gentil senhora, sei que corrupção existe em todas as partes do mundo, mas já passamos dos limites por aqui).
Há quem diga que esse pendor para a desordem e a trapaça está na nossa origem – a escória que Portugal enviou para colonizar as terras recém-descobertas e da qual descendemos (aventureiros, degredados e ladrões, ai de nós). A hereditariedade determinando características culturais? Para mim, isso é racismo mal-disfarçado. O eterno verão tropical derretendo consciências e pudores? Duvido! Mas tenho um palpite políticamente mais correto para esse singular comportamento da brava gente brasileira: Freud explica!
Trouxa, cretino e otário são os únicos adjetivos públicáveis que um raivoso admirador de “Minha Eguinha Pocotó” (é só o que posso deduzir) me atribuiu, via e-mail, na semana que passou. Os outros prefiro não dizer, até porque correria o risco de escandalizar as almas mais sensíveis que porventura tenham tempo e paciência suficientes para ler estas mal traçadas. O motivo de tanta irritação, percebi com algum esforço no texto rudimentar, foi o comentário que assinei, semana passada, a respeito do excesso de barulho que atormenta os viventes da velha Itabuna cansada de guerra. Depois de garantir que continuará provocando quanta zoada quiser (a rua é pública, lembrou), o moço terminou com um argumento que certamente considera irrespondível: “Os incomodados que se mudem”.
Contestar ponto de vista tão... primitivo, digamos assim, certamente não seria tarefa difícil para ninguém minimamente civilizado, mas me contento em avisar ao meu feroz inimigo virtual que vibrei com a raiva dele e os seus insultos... Na verdade, foram um bálsamo para minh’alma sofrida (não resisti à tentação de repetir o pregador dos meus domingos na Universal). Explico a razão de tanta felicidade: ainda que involuntariamente, consegui irritá-lo, e para valer, coisa que gente como ele, com o gosto sádico que tem pelo desrespeito aos direitos alheios, me faz o tempo todo – e impunemente. Senti o doce sabor da vingança, afinal.
Mas, até por uma questão de justiça, devo reconhecer que o meu recém-conquistado desafeto não é uma ilha de estupidez e intolerância em meio a um oceano de cidadãos civilizados e ordeiros. Pelo contrário, pessoas assim são facilmente encontradas em todas as camadas sociais e com os mais variados níveis de instrução. É duro ter de reconhecer, mas o itabunense é mal-educado. O baiano também. Idem para cariocas, paulistas, cearenses e demais naturalidades da pátria amada idolatrada. Exceções existem, claro, mas presumo que insignificantes estatisticamente. Somos mal- educados do Oiapoque ao Chuí, em maior ou menor grau. Quem duvidar, que fique 15 minutos na fila de um banco e com certeza verá pelo menos um malandro ou dois passar descaradamente à sua frente.
Também será muito didático permanecer algum tempo nas proximidades de um semáforo. É inacreditável o número de carros e motos que avançam o sinal vermelho sem o menor constrangimento. Dane-se o pedestre! Falei pedestre? Quantos atravessam a rua na faixa apropriada? Ou esperam a luz verde acender? O tamanho da deseducação pode ser percebido em praticamente qualquer lugar: no cinema (mauricinhos e patricinhas não desgrudam dos celulares), na sujeira largada pelas calçadas, na barulheira insuportável, na enorme quantidade de orelhões danificados pelos vândalos... A lista é interminável.
Disse que somos mal-educados? Mas não esqueçamos a corrupção verde-amarela, providencialmente batizada com um termo ameno: esperteza (ou jeitinho brasileiro). Subornar o guarda que aplica uma multa, recorrer a um pistolão para conseguir favores indevidos, utilizar em benefício próprio os recursos da empresa onde trabalha... tudo isto é feito com imensa naturalidade. Recentemente procurei os serviços de um conceituado neurologista itabunense, mas pedi uma nota fiscal com o valor da consulta (tentaria conseguir o ressarcimento do plano de saúde). A gentil recepcionista me avisou: sem nota, é um preço. Com nota, é outro, e mais alto, logicamente.
Imagino o ilustre doutor tomando uma cervejinha com os amigos enquanto destila a sua revolta contra a corrupção... em Brasília, claro! Aliás, é uma mania nacional falar dos sacripantas e golpistas como se eles fossem alienígenas desembarcados aqui depois de uma viagem inter-galática. Mas a autoridade que se omite ou se vende, o policial que vira bandido, o médico que lesa o fisco ou o político ladrão são feitos exatamente da mesma argamassa que nosotros. São povo... Em última análise, somos nós! (Sim, gentil senhora, sei que corrupção existe em todas as partes do mundo, mas já passamos dos limites por aqui).
Há quem diga que esse pendor para a desordem e a trapaça está na nossa origem – a escória que Portugal enviou para colonizar as terras recém-descobertas e da qual descendemos (aventureiros, degredados e ladrões, ai de nós). A hereditariedade determinando características culturais? Para mim, isso é racismo mal-disfarçado. O eterno verão tropical derretendo consciências e pudores? Duvido! Mas tenho um palpite políticamente mais correto para esse singular comportamento da brava gente brasileira: Freud explica!
Jornalista
eduardolavinsky52@hotmail.com