sábado, 27 de setembro de 2008

“Eles”, não... Nós


É duro reconhecer, mas o itabunense é mal-educado, o baiano também. Idem para cariocas, paulistas, cearenses... Somos todos mal-educados, do Oiapoque ao Chuí

Trouxa, cretino e otário são os únicos adjetivos públicáveis que um raivoso admirador de “Minha Eguinha Pocotó” (é só o que posso deduzir) me atribuiu, via e-mail, na semana que passou. Os outros prefiro não dizer, até porque correria o risco de escandalizar as almas mais sensíveis que porventura tenham tempo e paciência suficientes para ler estas mal traçadas. O motivo de tanta irritação, percebi com algum esforço no texto rudimentar, foi o comentário que assinei, semana passada, a respeito do excesso de barulho que atormenta os viventes da velha Itabuna cansada de guerra. Depois de garantir que continuará provocando quanta zoada quiser (a rua é pública, lembrou), o moço terminou com um argumento que certamente considera irrespondível: “Os incomodados que se mudem”.
Contestar ponto de vista tão... primitivo, digamos assim, certamente não seria tarefa difícil para ninguém minimamente civilizado, mas me contento em avisar ao meu feroz inimigo virtual que vibrei com a raiva dele e os seus insultos... Na verdade, foram um bálsamo para minh’alma sofrida (não resisti à tentação de repetir o pregador dos meus domingos na Universal). Explico a razão de tanta felicidade: ainda que involuntariamente, consegui irritá-lo, e para valer, coisa que gente como ele, com o gosto sádico que tem pelo desrespeito aos direitos alheios, me faz o tempo todo – e impunemente. Senti o doce sabor da vingança, afinal.
Mas, até por uma questão de justiça, devo reconhecer que o meu recém-conquistado desafeto não é uma ilha de estupidez e intolerância em meio a um oceano de cidadãos civilizados e ordeiros. Pelo contrário, pessoas assim são facilmente encontradas em todas as camadas sociais e com os mais variados níveis de instrução. É duro ter de reconhecer, mas o itabunense é mal-educado. O baiano também. Idem para cariocas, paulistas, cearenses e demais naturalidades da pátria amada idolatrada. Exceções existem, claro, mas presumo que insignificantes estatisticamente. Somos mal- educados do Oiapoque ao Chuí, em maior ou menor grau. Quem duvidar, que fique 15 minutos na fila de um banco e com certeza verá pelo menos um malandro ou dois passar descaradamente à sua frente.
Também será muito didático permanecer algum tempo nas proximidades de um semáforo. É inacreditável o número de carros e motos que avançam o sinal vermelho sem o menor constrangimento. Dane-se o pedestre! Falei pedestre? Quantos atravessam a rua na faixa apropriada? Ou esperam a luz verde acender? O tamanho da deseducação pode ser percebido em praticamente qualquer lugar: no cinema (mauricinhos e patricinhas não desgrudam dos celulares), na sujeira largada pelas calçadas, na barulheira insuportável, na enorme quantidade de orelhões danificados pelos vândalos... A lista é interminável.
Disse que somos mal-educados? Mas não esqueçamos a corrupção verde-amarela, providencialmente batizada com um termo ameno: esperteza (ou jeitinho brasileiro). Subornar o guarda que aplica uma multa, recorrer a um pistolão para conseguir favores indevidos, utilizar em benefício próprio os recursos da empresa onde trabalha... tudo isto é feito com imensa naturalidade. Recentemente procurei os serviços de um conceituado neurologista itabunense, mas pedi uma nota fiscal com o valor da consulta (tentaria conseguir o ressarcimento do plano de saúde). A gentil recepcionista me avisou: sem nota, é um preço. Com nota, é outro, e mais alto, logicamente.
Imagino o ilustre doutor tomando uma cervejinha com os amigos enquanto destila a sua revolta contra a corrupção... em Brasília, claro! Aliás, é uma mania nacional falar dos sacripantas e golpistas como se eles fossem alienígenas desembarcados aqui depois de uma viagem inter-galática. Mas a autoridade que se omite ou se vende, o policial que vira bandido, o médico que lesa o fisco ou o político ladrão são feitos exatamente da mesma argamassa que nosotros. São povo... Em última análise, somos nós! (Sim, gentil senhora, sei que corrupção existe em todas as partes do mundo, mas já passamos dos limites por aqui).
Há quem diga que esse pendor para a desordem e a trapaça está na nossa origem – a escória que Portugal enviou para colonizar as terras recém-descobertas e da qual descendemos (aventureiros, degredados e ladrões, ai de nós). A hereditariedade determinando características culturais? Para mim, isso é racismo mal-disfarçado. O eterno verão tropical derretendo consciências e pudores? Duvido! Mas tenho um palpite políticamente mais correto para esse singular comportamento da brava gente brasileira: Freud explica!


Jornalista
eduardolavinsky52@hotmail.com

sábado, 20 de setembro de 2008

UM TAPA-OUVIDOS, POR FAVOR


Eduardo Lavinsky

"A nossa época, a mais palavrosa de todas,
fala incessantemente sem conseguir dizer nada

Tom Stoppard

Li nos jornais que 12 motoristas foram multados pelo Ministério Público Estadual porque descumpriam normas pertinentes à propaganda sonora, como limite de 80 decibéis para o volume de som nos veículos, circulação apenas das 8 às 22 horas e distância superior a 200 metros de órgãos públicos, hospitais, escolas e igrejas. E azar de quem acha que a miséria alheia não deve ser motivo de alegria... Eu me alegrei – e muito, devo admitir. Mas, ai de mim, só até ler um pouquinho mais e descobrir que o afortunado episódio aconteceu em Ilhéus e não aqui em Itabuna, onde, a julgar pela paquidérmica indiferença das nossas autoridades, a barulheira tem vida longa pela frente.

Continuaremos, portanto, correndo o risco de ficar surdos, insones, hipertensos e com o sistema imunológico enfraquecido, passíveis de sucumbir ao ataque dos temíveis vírus, fungos e bactérias que pululam por aí. Pode até parecer exagero achar que uns ruidozinhos mais altos possam ser tão destrutivos assim, mas é melhor não duvidar do que afirmam os médicos. Eu, por exemplo, já tomei conhecimento dos terrificantes perigos que envolvem coisas aparentemente inocentes que fazemos no dia-a-dia, como comer batatas fritas, dar descarga com o vaso sanitário destampado ou esfregar o olho sem antes esterilizar cuidadosamente a mão. Até um inocente cafezinho quente, sobretudo quando servido naqueles detestáveis copinhos plásticos, pode representar uma séria ameaça para a libido dos mais idosos e mesmo a de alguns saradões que andam por aí (a ponta da língua ou dos dedos podem sofrer queimaduras, alertam os sexólogos).

E a zoada insuportável vai acabar depois das eleições, garantindo, enfim, um pouco de sossego aos nossos ouvidos? Não. Até outubro continuaremos submetidos à lógica insana que parece dominar este tipo de publicidade: quanto mais intenso o volume dos altos-falantes, mais votos conseguirá o candidato. (Para mim, patrocinar esse tipo de coisa revela apenas despreparo para a função pública). Depois a situação pouco mudará porque não é de hoje que andar pelas ruas de Itabuna virou um suplício. Muitos comerciantes elegeram os carros de som como mídia preferencial, enquanto outros colocam um locutor, microfone à mão, na porta dos seus estabelecimentos. Fazendo propaganda, claro!

Os barzinhos também contribuem para elevar às alturas os decibéis que atazanam os passantes, enquanto vendedores de bugigangas e até pregadores evangélicos não fazem por menos. A ajudá-los a produzir algazarra existem ainda buzinas, escapamentos desregulados e motos capazes de reproduzir o ronco do motor de um carro de Fórmula 1.

Ficamos por aí? De jeito nenhum. Proprietários de veículos particulares se encarregam de prosseguir com o massacre, inclusive madrugada adentro, utilizando parafernálias sonoras capazes de deixar no chinelo qualquer trio elétrico. (Em respeito à compostura, resistirei à tentação de classificar os que eles chamam de música). Recorrer à Polícia é inútil – há sempre uma diligência mais importante em andamento – e a Lei do Silêncio, que impõe limites para emissão de ruído, continua sendo ignorada entre nós, numa demonstração de constrangedora incivilidade. Certo mesmo estava o escritor e dramaturgo inglês Tom Stoppard, ao afirmar num dos seus ensaios: "A nossa época, a mais palavrosa de todas, fala incessantemente sem conseguir dizer nada”. A propósito: alguém aí me arranja um tapa-ouvidos, por favor?

Jornalista, secretário de Redação do Jornal Agora.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

DIRCEU DEIXA SAUDADES


Dirceu Benício dos Santos
é sepultado em Salvador

O itabunense Dirceu Benício dos Santos faleceu terça-feira e foi sepultado quarta-feira (3) no cemitério do Campo Santo, em Salvador. Engenheiro agrônomo aposentado do Ministério da Agricultura, Dirceu foi cacauicultor e pecuarista e participou de diversas entidades sociais de Itabuna, inclusive da diretoria do Itabuna Esporte Clube.
Amigo do falecido senador Antônio Carlos Magalhães, desde a infância e adolescência no Campo da Pólvora, fato do qual se orgulhava e que gostava de afirmar a quem nunca ter pedido nada para si, Dirceu também exerceu cargos no Governo do Estado. Como presidente da Associação Sul-baiana de Agronomia, foi um dos técnicos escolhidos para avaliar a área para a instalação do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), em maio de 1963.
Recentemente, Dirceu residia em Salvador, e visitava diariamente os amigos e colegas na sede do Ministério da Agricultura, no Largo dos Aflitos.
Apesar de residir na capital, visitava constantemente Itabuna e Coaraci, onde tinha negócios. Botafoguense histórico, Dirceu era freqüentador e membro honorário da Confraria do Alto Beco do Fuxico, onde foi um dos fundadores do Bar do Ithiel e deixou muitos amigos.