sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O sentimento irreparável da perda




Walmir Rosário
Confesso que foi muito difícil para mim escrever essa última homenagem ao meu amigo Eduardo Lavinsky, companheiro de todas as horas, irmão inseparável nesses 23 anos de intenso convívio. Mais difícil, ainda, é assimilar essa perda irreparável, principalmente pelas circunstâncias em que se deu, através de um trágico acidente. Mas são coisas da vida e a morte nada mais é do que parte integrante dessa nossa existência, aqui neste mundo terreno ou além.
Como amigo, nada mais difícil do que receber uma notícia sobre o desaparecimento de um ente íntimo, mas com Lavinsky Deus nos reservou outras surpresas, atingindo, também, em cheio, o campo profissional. Recebemos a notícia de um acidente – como acontece todos os dias –, buscamos a apuração dos fatos, a identificação das vítimas até o último minuto do fechamento da edição. Em vão.
Não nos conformamos com o fato, e mesmo sem saber de quais pessoas envolvidas, nos preocupamos com a apresentação da notícia como inteiro, conforme recomenda os manuais de jornalismo. Buscamos tudo: quem?, o quê?, onde?, quando? como?, por quê?, embora não pudemos, em tempo, fornecer aos leitores o quem. Parece uma peça pregada pelo destino sobre a morte de um jornalista.
Sim, porque Eduardo Lavinsky foi um jornalista com “J” maiúsculo, profissional preocupado com a técnica, a ética, com a repercussão dos fatos nas pessoas, na sociedade. Jornalista dos mais brilhantes, dono de um texto escorreito, chegava ao extremo no zelo com todos os processos de elaboração da notícia, indo desde a apuração até a chamada na primeira página, caso merecesse tal distinção.
Intransigente, não admitia interferências descabidas no trabalho do jornalista, mas sabia como ninguém ouvir – e com que paciência de um monge – todos os lados dos fatos. Nada o tirava mais do sério como ler um texto jornalístico incompreensível, mal apurado, malfeito. Acreditava, ele, que não prestava a notícia e muito menos quem teve o desplante de escrevê-la.
Nasceu para o jornalismo, embora eu soubesse que seu sonho de criança era ser piloto de avião – projeto que nunca se concretizou –, mas que continuava no seu subconsciente. Se sentia feliz com o movimento do aeroporto, não se cansava de ver aviões subindo e descendo, movimento de pilotos. Mas exercia o jornalismo com a mesma precisão de um piloto de avião, profissional que não se pode dar ao luxo de cometer erros.
Em freqüentes brincadeiras, gostava eu de dizer que ele não deveria ser jornalista, e sim juiz, pela forma com que analisava os fatos, com a equidade de um magistrado, preocupado em conceder a justiça a quem de fato a tem. Outra profissão que lhe cairia como uma luva seria a de médico, principalmente na especialidade da psiquiatria. Era apaixonado por esta área e discorria sobre variados temas com metodologia científica. Com certeza esse estudo lhe deu base para o exercício do bom jornalismo.
Convivo com Eduardo Lavinsky, como já disse, por 23 anos. Desde os tempos da velha Dicom, a conceituada Divisão de Comunicação da Ceplac, comandada por Milton Rosário e pródiga em contratar ou lançar grandes profissionais. Convivíamos com jornalistas do naipe de Edvaldo Oliveira, Odilon Pinto, Raimundo Nogueira, Ederivaldo Benedito, Telmo Padilha, Tyrone Perrucho, Hélio Pólvora, Nisvaldo Damasceno, Luiza Cassiano, dentre outros, como os saudosos Celso Rocha, Mirthes Pititinga, e por aí afora.
Desde então, nossos caminhos sempre foram cruzados pela convivência fraterna e atividades jornalísticas em outros órgãos de comunicação regional e assessorias de imprensa e marketing político nas agências Visão Propaganda e Publix.
Substituiu-me na editoria do Agora Rural e, em seguida, com o apoio de Adervan, trouxemos de volta ao Agora, desta vez para o cargo de secretário de Redação e editor interino. No Agora, fizemos (continuamos, mesmo com o desfalque) um jornalismo de qualidade, junto com os experientes Antônio Lopes, Kleber Torres (o maior repórter desta terra), mesclado com profissionais, mais novos, porém, tarimbados.
Introspectivo, tímido, sabia vibrar com o trabalho produzido, sobretudo quando nos desdobrávamos para apresentar uma notícia dada com exclusividade. Esmerava-se em elaborar a primeira página e não se acanhava em perguntar sobre a conveniência ou não de uma simples palavra ou expressão empregada no texto, a exemplo de como agem os grandes profissionais.
Essa troca de experiência e confidências era constante entre nós, até por conta de temperamentos – ele mais cauteloso, eu mais arrojado, digamos –, o que fez dele meu constante consultor. Precavido, ele observava e dizia: “Está perfeito, mas acho mais prudente tomar esse caminho...”. E não se falava mais nisso, simplesmente eu acatava.
Todos os bons adjetivos se encaixam perfeitamente para classificar o homem e o profissional Eduardo Lavinsky. Digo isso sem receio algum, pois não é de hoje que presencio o cuidado e a responsabilidade com seus semelhantes. Esposo e pai extremado, se preocupava com os filhos, como se crianças ainda fossem, e como todo “pai coruja”, se orgulhava deles com a maior felicidade.
Mas a vida é feita de alegria e tristezas, e disso não podemos nos desviar. Não é da natureza humana nos conformar com as ausências, mas temos que buscar forças e superar. E assim que soube do quem? para completar a notícia, sábado (22), li, na coluna de Cláudio Humberto, esse desabafo: “Não era para ser assim [título] O poeta e ex-guerrilheiro capixaba Antonio Carlos Campos constatou que o final da vida, para o ser humano, é marcado por hospital, cirurgia, dieta, dores de todo o tipo, aposentadoria do INSS, desemprego, asilo, abandono da família e, claro, a morte. Concluiu: ‘O final foi mal bolado’”.
Não imaginava o poeta capixaba que as dores de quem passa por essas situações são bem menores do que o sentimento de ausência dos que aqui ficam à espera de que Deus conclua seu desígnio para com a gente. E como ele mesmo dizia: “Vai com Deus, irmãozão”.


Publicado na edição do jornal Agora de 29/11 a 1º/12 de 2008.

sábado, 8 de novembro de 2008

O preço alto da dubiedade


Walmir Rosário
Dizem que a justiça tarda, mas não falha. Essa máxima da sabedoria popular é inconteste e freqüentemente demonstra continuar valendo. Não foi à toa que os eleitores de Itabuna se negaram a entregar a administração de Itabuna a Juçara Feitosa, uma malsinada e frustrada tentativa de Geraldo Simões se perpetuar no poder da capitania hereditária de Itabuna (certamente é como ele vê a nossa cidade).
Prova de que o povo estava certo são as declarações feitas pela candidata derrotada sobre os subsídios aprovados pela Câmara Municipal para os agentes políticos municipais (prefeito, vice, secretários e vereadores) na gestão que terá início em janeiro de 2009.
A matéria, apreciada e aprovada pelos vereadores, faz parte dos direitos e deveres dos parlamentares municipais e é revista de quatro em quatro anos, antes mesmo da eleição. Não existe nenhuma proibição que seja apreciada após o pleito, mas recomenda a ética que não se legisle em causa própria.
Entra ano, sai ano, e os novos subsídios dos agentes públicos sequer são lembrados à sociedade com tanta ênfase. E não foi diferente neste ano de 2008, quando o Agora publicou os novos valores. Não houve um só segmento da sociedade que tenha se levantado contra os subsídios do prefeito, vice, secretários municipais e vereadores.
Pois bem, somente agora, passada a refrega da campanha eleitoral, o assunto vem à tona. E não emergiu de seu mérito – valores maiores ou menores, bem como percentuais aplicados –, e sim como uma cópia mal-acabada da repercussão de ato de igual teor patrocinado pela Câmara Municipal de Salvador.
Lá, o assunto mereceu destaque por conta do veto do prefeito João Henrique ao seu próprio subsídio, considerado exagerado por ele. Aqui, a assessoria de marketing do secretário Geraldo Simões, que não pôde disputar as eleições pela sua condição de “ficha suja”, colocou a cópia mal-feita do episódio do veto na boca da sua mulher. E como seria de se esperar, o tema não foi abordado com a responsabilidade que merece e sim em forma de politicagem mesquinha, própria dos atores envolvidos na pretensa denúncia. Diante o barulho feito pela petista em função de um ato rotineiro da administração pública, poderíamos dizer que montanha pariu um rato. Mas é preciso lembrar também que a atitude da petista é de uma monumental irresponsabilidade. Senão, vejamos:
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, preceitua, taxativamente, no seu artigo 29, V: “subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I”. Portanto, não se admite que uma candidata a prefeita, que já exerceu cargo de secretária municipal, desconheça o processo de reajuste dos subsídios do prefeito e secretários.
Pior ainda do que o simples desconhecimento de dona Juçara Feitosa sobre o assunto é o fato de ela dar declarações sobre um assunto de forma equivocada, com o interesse apenas em desqualificar uma determinada pessoa, no caso seu principal adversário na eleição.
Numa democracia, passada a refrega eleitoral, reconhece-se a derrota, parabeniza-se o vencedor e assume-se a disposição de colaborar para o bem da cidade, estado ou país. Assim aconteceu esta semana nos Estados Unidos, quando o derrotado John McCain saudou o vitorioso Barack Obama.
Mas Geraldo Simões e dona Juçara não estão acostumados com democracia, sistema que abominam, pelo que demonstrou o comportamento de ambos quando ocuparam o poder. Sempre agiram assim quando elite sindical, manipulando a massa levantadora de braço nas assembléias, ou com a empáfia própria dos déspotas, assim que foram guindados à Prefeitura de Itabuna.
Os mesmos petistas que declaravam greves a todo instante e por qualquer motivo, sequer hesitaram ao convocar a Polícia Militar para reprimir o movimento paredista dos funcionários públicos municipais. Aliados de antes ficaram confinados nos sindicatos. Tendo como pretexto uma suposta governabilidade e visando apenas a própria sobrevivência política, rechaçaram as lutas de classe e, bem no estilo da esquerda festiva, denunciaram “manobras golpistas de grupos reacionários que tentam impedir o avanço do socialismo”.
Triste e moribundo discurso de quem não tem projeto algum de governo, mas – e tão somente – de poder. Ficam perdidos no deslumbramento dos encantos da burguesia e agarram-se às práticas e estratégias que antes condenavam com veemência. Mas a dubiedade tem um alto preço: vivem como peixes fora d’água, tentando manter um estilo de vida que, como “socialistas”, fingidamente deploram.
E mesmo com um pé na elite palaciana, Geraldo (o mentor) e Juçara (a sua marionete) não resistem a uma conspiração, ainda que de mentirinha (afinal, criar factóides políticos é uma forma de estar em evidência). Falam, aumentam, inventam, injuriam, distorcem, caluniam. Mesmo que para tanto tenham que mentir para os seus 40.610 eleitores...
Editor do Jornal Agora e advogado