Walmir Rosário
O local ensolarado pela falta do pé de abiu chama a atenção |
Por
falta do que fazer não era, mesmo assim pouquíssimos membros da
Confraria do Berimbau percebiam o pé de Abiu (Pouteria
caimito),
frondosa árvore frutífera da família Sapotaceae, ao lado das mesas
do Berimbau. No mínimo, acreditavam que plantas, com suas raízes e
folhas teriam importância e serventia era do lado de dentro do
balcão, mais exatamente no interior daqueles litros e garrafas
conhecidas como “folhas podres”.
E
olha que a sombra do galhardo abieiro refrescava – e muito – os
sábados ensolarados em que costumeiramente se consumiam – e
consomem – cervejas, cachaças e o deliciosos tira-gostos. Por
falar em comida, no Berimbau é Lei: bebeu tem que comer. E a
organização interna prescreve que no primeiro sábado do mês, o
cardápio é o tradicional mal-assado, já nos seguintes, fica a
cargo dos confrades que submetem à diretoria o prato que deverão
levar.
Mas,
e o crime? Qual foi? Quem cometeu? Pois é, o fiel e prestimoso pé
de abiu teve um fim trágico, sem direito a julgamento. Foi condenado
e executado sem defesa...quer dizer, até teve, mas sem fôlego.
Pior, ainda, sem ser velado. Certeiros golpes de machado e virou
lenha, deve ter ardido num forno de uma dessas padarias ou pizzarias
da cidade.
Pior,
foi derrubado por engano. Jura, Zé do Gás, que jamais cometeria uma
atrocidade desta com o abieiro plantado com todo cuidado e carinho
pelo estimado sogro Neném de Argemiro. Além do mais, foi
transformado em árvore de estimação pela sogra Terezinha Sarmento,
transmitida em testamento para a esposa Vera.
“Deus
me livre de uma blasfêmia dessas”, jura Zé do Gás, imputando
toda a culpa ao contratado para derrubar um toco que restava no
quintal, sobra de uma árvore, esta, sim sem serventia e que ainda
atrapalhava a expansão das atividades da Confraria do Berimbau. Até
mesmo o padeiro – que nada tinha a ver com o feito – não
acreditou quando percebeu as primeiras machadadas certeiras o
inocente abieiro
Mas
nem todo o valor sentimental da família Sarmento e dos membros da
Confraria do Berimbau foram suficientes para conter o tresloucado
gesto do insensível machadeiro. Foram cerca de 10 cortes de machado
em cada lado e o abieiro, considerado um membro da família veio
abaixo. Sem dó nem compaixão.
Mas
o pior ainda estava por vir. Bastou dona Terezinha vislumbrar a
grande claridade deixada pela ausência do abieiro para se dar conta
de crime cometido. Imediatamente, convocou os membros da família
para cobrar a autoria do crime, pois, afinal, o exemplo começa em
casa. Enquanto a filha Vera negava peremptoriamente qualquer
participação do hediondo crime ambiental, Zé do Gás se desculpava
sob o argumento de que se encontrava nos “braços de Morfeu”,
como se fosse possível se encontrar em pleno sono num momento
delicado dessa magnitude.
Pela
leis do Berimbau, o crime ambiental será levado à apreciação do
Secretário Plenipotenciário, que deverá abrir uma investigação
para apurar as responsabilidades. Uma das linhas de investigação
apontou que o abieiro teria sido abatido para dar lugar à construção
de um mictório para os confrades e uma churrasqueira, conforme
projeto elaborado pelo engenheiro de Minas, Gilbertão.
De
antemão, ficou convocado o engenheiro agrônomo José Alves,
especialista em paus e madeiras, que deverá prestar compromisso e
restabelecer a vegetação original.
“Justiça
será feita, doa em quem doer”, falou do alto de sua autoridade o
Secretário Plenipotenciário de O Berimbau.