domingo, 10 de agosto de 2008

PAC do Cacau - adjetivos, advérbios e conclusões

POR WALMIR ROSÁRIO

Indignação! Não poderia ser diferente a reação dos cacauicultores em relação ao tão propalado PAC do Cacau. O que era para ser solução se tornou desespero, fazendo correr rio abaixo todas as expectativas depositadas num plano que atendesse às necessidades dos produtores de cacau, endividados ao extremo.
Frustração! Todas as esperanças, como num conto de mágica, se desvaneceram, e os sonhos de uma nova cacauicultura foram transformados em pesadelo. Mais uma vez é colocado um obstáculo no caminho dos produtores na luta contra a vassoura-de-bruxa, como se não bastassem os já existentes.
Injustiça! É a única conclusão possível, reforçada pelo mea-culpa feito pela Ceplac, através da Nota Técnica, reconhecendo a ineficácia das recomendações constantes do pacote tecnológico. E a tudo isso foi dado e passado recibo, embora as autoridades governamentais façam hoje ouvidos de mercador.
Afronta! Não é de hoje que o produtor de cacau é tratado como um Perdulário, daqueles que acendem charutos com notas de 500 mil réis, entre uma dose de whisky e um cheiro no congote da quenga no Bataclan de Maria Machadão. Coitado doJorge Amado, não sabia quanto mal causaria à imagem do cacauicultor, muito embora o seu estilo literário tenha sido inspirado na ideologia comunista que admirava.
Raiva! Parece ter sido – pelo menos deixa a entender - esta a herança que caberá aos próceres petistas, que não souberam (e ainda não sabem) distinguir ficção da realidade. Por fidelidade a uma ideologia já comprovadamente obsoleta, o esquerdismo festivo e inconseqüente, eles provocam a destruição de uma lavoura responsável ainda potencialmente capaz de diminuir a miséria numa região com quase dois milhões de pessoas.
Desprezo! Somente se explica esse tratamento infame dispensado aos cacauicultores a um trauma ideológico de quem passou anos a fio tentando prejudicar a maior matriz econômica regional. Os socialistas de ontem, agora vivendo na bonança e tendo todas as suas necessidades satisfeitas, não conseguem ter a grandeza de semear a concórdia e ganhar a confiança daqueles que têm muito pouco ou nada.
Repulsa! Quem chega ao poder e continua a agir como perdedor não merece a vitória. Só faz jus a ela quem é capaz de dispensar tratamento igualitário àqueles que produzem com dignidade. Sadismo e vingança só apequenam a quem os pratica.
Ódio! Sintoma de pequenez mental que impede a superação de conflitos passados. Com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, essa ideologia do autoritarismo e da violência deveria ter sido revista. Mas não, continua latente. É triste ver o quanto os progressistas de ontem se transformaram nos conservadores de hoje.
Empreendedorismo! Como se não bastassem todos os revezes sofridos ao longo dos anos, causados pelo que aconteceu do lado de dentro da porteira, os cacauicultores também têm que superar as dificuldades existentes fora dela, impostas pela burocracia estatal. Todos esses percalços, entretanto, não fazem desvanecer o espírito do cacauicultor, sobretudo pelo seu apreço ao seu trabalho.
Superação! Dólar baixo, insumos em alta e o grande endividamento causado pelos altos custos dos serviços da dívida, além da mão-de-obra cara, sempre foram obstáculos superados pelo cacauicultor. Só que agora - e ele não esperava por isso - ele tem que lutar contra a oposição ao sistema produtivo de sucesso, como se praticar o capitalismo fosse pecado ou crime contra a humanidade.
Liberdade! Na democracia a verdade tem de ser absoluta e a liberdade tem de pairar, soberana, acima de todos os interesses, sejam eles políticos, econômicos ou sociais. Acima de todas as divergências ideológicas devem prevalecer a inovação tecnológica, a livre concorrência, a geração de riquezas e a promoção do bem-estar social.
Livre pensamento! Ficam aqui, a título de sugestão, os ensinamentos de Immanuel Kant, em O que é o esclarecimento: "...Ouço, agora, porém, exclamar de todos os lados: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama: não raciocineis, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciocineis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis aqui, por toda a parte, a limitação da liberdade.".
Abdicação! Por tudo isso se conclui que não basta apenas (e exclusivamente) ao cacauicultor cuidar da produção, atendo-se à obtenção do poder econômico, mas racionar sobre a necessidade de deter também o poder político. Do contrário, continuará hoje, como antes, à mercê de discursos eloqüentes, mas ardilosos. Discursos feitos, sobretudo, com a intenção deliberada de ludibriar, induzindo os mais crédulos a permanecer cometendo erros históricos, inclusive o mais perigoso deles: delegar poderes a quem se comporta como inimigo.

Editor do Agora
(Publicado na edição do Agora de 09 a 11 de agosto de 2008)

3 comentários:

Anônimo disse...

WALMIR vc está de parabéns, sobretudo por seus lucidos comentários a respeito da realidade da nossa combalida cacauilcultura, o seu ultimo artigo, bem expressa o sentimento de todos os cacauilcutores, com relação ao enganoso PAC DO CACAU.

PARABÉNS, CONTINUE NOS AJUDANDO

idelmondes disse...

Walmir,

Firme e claro, os seus comentários são precisos Mas eu gostaria de saber como é que a comunidade de produtores de cacau vai reagir a essa falácia que é o PAC do Cacau.

Parabéns

Izabel Delmondes

Anônimo disse...

FALOU A VERDADE, NUA E CRUA.VC RADIOGRAFOU A ALMA E O SENTIMENTO DO CACAUICULTOR.

PARABÉNS WALMIR

ABRAÇOS ROGERIO MACEDO