Walmir Rosário*
Castigo divino! Foi o sentimento e o desabafo de muita gente na noite
desta fatídica quinta-feira, 11 de janeiro de 2018, na praça
Coronel Armindo Castro, conhecida como a praça da Capelinha e palco
anual da Festa de São Sebastião. Também não era pra menos! Pela
primeira vez nesses mais de 150 anos, o Mastro de São Sebastião não
erguido pelos “levadores”, responsáveis pelo transporte – nos
ombros – do cais do porto até a praça, onde é erguido.
De minha parte vou logo avisando que não vi com esses olhos que a
terra um dia já de comer, mas soube do acontecido por pessoas dos
variados tipos, a grande maioria tida e havida como idôneas. E o
fato era só um: Os levadores do pau de Bastião, homens fortes e
experimentados no ofício, não conseguiram erguer o mastro, como
fazem com toda a habilidade, por anos a fio.
Que eu lembre, só uma vez, acredito que em 2014,
o pau de Bastião – como é carinhosamente chamado – quase não
sobe. Mas não foi por falta de força e jeito como o de agora, mas
por motivos políticos, perfeitamente sanados pelo organizador dos
festejos, Trajano Barbosa, homem sério e respeitado por todos, que
estão nesse ofício por mais de 60 anos e que ainda deve continuar
per saecula saeculorum.
Tá aí o “Pau de Bastião estendido no chão |
Na minha humilde visão, achei que iria bombar! Tinha ares de festa
ecumênica, com a participação de protestantes. Uma glória!
Afinal, a levada do pau de Bastião é uma festa democrática, que
conta com os eventos profanos e religiosos, daí a importância da
participação de todos os credos, inclusive os que não creem, sejam
eles nomeados de ateus ou agnósticos. Inclusive anotei a presença
de alguns deles.
Mas, a pergunta que não quer calar é: Por que o pau de Bastião não
subiu? Castigo divino ou não, o certo é que, por mais força que
fizessem não conseguiam fazer com que o mastro fosse colocado no
buraco permanecer altivo e garboso até o dia 20 de janeiro, data em
que é homenageado o Santo. Alguns mais afoitos chegavam a afirmar
que teria sido uma vingança de Trajano Barbosa por ter sido
criticado por ter escolhido um pau torto e pequeno, não condizente
com as pompas da festa. Então teria indicado a derruba do dito
eucalipto, grosso, alto e viçoso, bem verde e pesado.
Entre as duas questões levantadas, me inclinei mais pelo castigo
divino, haja vista a bela história da devoção a São Sebastião
nas terras canavieirenses. Tudo começou com uma promessa para livrar
a família acometida pela lepra. Milagre feito, promessa paga com o
corte e o erguimento do mastro, tradição que vem sendo perpetuada
por esse sesquicentenário.
Como disse acima, eu não era testemunha ocular do fato, já que não
fiz o percurso integral do cortejo, e do Bar do Erpídio, no porto,
me arranchei com amigos no Bar do Renato, na rua 13, onde apreciei a
passagem do pau de Bastião. Daí que, sabedor do fato, tratei de
consultar livros históricos e o jornal Tabu, não encontrando fato
igual que merecesse o registro, a não ser uma briga de facções
políticas, em tempos pretéritos.
Feitas as consultas aos conhecedores da história e estórias de
Canavieiras, Antônio Amorim Tolentino, Beto Pescoço de Galinha e
Raimundo Tedesco, todos me afiançaram não ter registro de
acontecimento igual. Só não deu tempo consultar o historiador
Durval Filho, pelo adiantado da hora, por do sol de sexta-feira, já
em seus compromissos religiosos, mas, também não encontrando nada
nos seus trabalhos na internet.
Ainda com base na história e estórias, contam os mais antigos que,
caso o pau de Bastião não seja erguido, a cidade e seus
organizadores sofreriam punições severas. Entre os castigos
estariam o insucesso na agricultura, com falta de chuvas e pragas
biológicas, além de outros não revelados. Para se ver livre das
punições divinas, a prefeitura tratou de contratar um caminhão
guincho para erguer o pau de Bastião.
Enquanto isso não ocorria, os gaiatos faziam correr nas sete
freguesias relatos de que o pau de Bastião estaria se filiando ao
famoso Clube dos Rolas Cansadas, coisa de alguns velhos que não têm
o que fazer. Desocupados, usam essa tal de agremiação para beber e
contar lorotas como essa, a pretexto de buscar a proteção do
lendário Santo. Te esconjuro, Satanás! Olha a maldição!
Radialista, jornalista e advogado.
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