segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

ASSIM ERA A CONFRARIA DO BERIMBAU – OU O CONCEITUADO BAR DE NENÉM DE ARGEMIRO


Terra em que filho chora e mãe não ouve, na Confraria do Berimbau as homenagens feitas em verso pelo poeta Adelmar Santos foi acompanhada de um pedido, este nunca pago pelo primo Antônio Tolentino (Tolé). Nem mesmo a sublime dedicatória com fartos elogios foi suficiente para o cumprimento da missão póstuma. E dizia assim (ipis literis):
Ao insigne primo, amigo e inteligência rara da nossa mui leal, heroica e provinciana cidade.
17/4/05
Adelmar Santos

LÁPIDE

Adelmar Santos (*)
Meu epitáfio
(uma sentença esdrúxula)
será escrito com o luzir das estrelas
por um bando de anjos fraudulentos
que profanaram sempre a minha mente
durante todo o meu viver.
Os mistérios azuis do Rio Pardo
(rio dos meus versos amargos)
um rio sem antiguidades
formataram meus sonhos inexpressos
com o grito dos afogados
e o aval de deuses trôpegos
nas noites de orvalhos tépidos.
Por isto, na minha lápide
(construída com efêmera matéria)
despida de eternidade
estarão bem preservados:
os odores dos meus versos
as cinzas dos meus poemas
e o enigma da minha trajetória.

(*) Homenagem pré-postuma aos parceiros da Confraria do Berimbau.
Suscipe, domine, servum tuum in locum sperandae sibi salvaionia a misericordia tua. Amen. Libera, domine, anima servi tu ex omnibus periculis inferni, et de laqueis poenarum, et ex omnibus tribulationibus. Amem. Libera, domine anima servi tui, sicut liberasti Henoch et Eliam de communi morte mundi. Amen.”

(Tradução do latim para a "Última Flor do Lácio para os aflitos e desconhecedores da antiga língua)

Recebe, senhor, o teu servo, no lugar onde espere a sua salvação, pela tua misericórdia. Amém. Livra, senhor, a alma de teu servo de todos os perigos do inferno e dos laços dos castigos e de todas as tribulações. Amém. Livra, senhor, a alma de vosso servo, assim como livraste Enoque e Elias da morte comum do mundo. Amém.

10 ANOS SEM NENÉM DE ARGEMIRO


Walmir Rosário*
O trompete na parede; Zé do Gás serve a batida aos clientes
O seu retrato continua na parede. O mesmo acontece com o trompete, silencioso. Os amigos continuam no Berimbau, reaberto por Zé do Gás. Com isso, a clientela ficou mais perto de sua Terezinha. Até de sua filha Vera.
Mas, há 10 anos que ele partiu, ficando para sempre na história dos amigos, de Canavieiras, sua cidade do coração. É sempre assim, não existe outra fórmula para permanecer para sempre junto à família, aos amigos. A partida é certa.
Partiu e deixou amigos tantos, que relembaram e comemoraram os 10 anos de sua partida para a eternidade. E lugar melhor para relembrar de Neném é o Berimbau, onde mantave sua trincheira por anos a fio.
Entre uma conversa e outra, um brinde a um feito qualquer – mesmo que não seja coisa séria... melhor, ainda! – com o tilintar de copos. É o mais vívido sinal de que reina a alegria no ambiente. Afinal, o Berimbau não é lugar pra coisa séria – a não ser a amizade.
Neném, com seu trompete, ao lado de Juninho e Luiz Madeira
O trompete está mudo, na parede, pois a ninguém foi dada a permissão para tocá-lo, tirar o menor dos acordes frequentes, daqueles que estávamos acostumados a ouvi-lo. As notas musicais de antes são substituídas pelos instrumentos dos frequentadores, que costumam alegrar as manhãs e tardes de sábado.
Uma cachaça, uma cerveja, por favor! Vamos brindar a alegria. Alegria, sim, pois onde estiver, Neném está nos acompanhando de perto, tomando conta do Berimbau, não o físico, hoje a cargo de Zé do Gás, mas o espiritual, aquele que contagia, que congrega, que ajudar a viver melhor em sociedade.
Traz aí o mal-assado! Não tem? Como? Nem tudo é perfeito, mas foi uma simples falha do secretário que não lavrou a ata e cuidou das programações festivas. Que não torne a outra, pois o Berimbau é coisa séria!
*Frequentador semanal

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

CABEÇA DE ROBALO – O MANJAR DOS DEUSES

A iguaria, de origem canavieirense, também é desejada por presidentes da República, governadores de Estado, reis e até por “pobres mortais”

Por Walmir Rosário


 Cabeça de Robalo elaborada pelo Restaurante Alegria de Viver,
o prato tradicional da gastronomia de Canavieiras
Os deuses gostam de dendê, tanto isso é verdade que um dos pratos mais desejados da riquíssima gastronomia canavieirense é a “cabeça de robalo”. Disto não se tem qualquer dúvida. A incerteza de quem ainda não foi apresentado a esse manjar dos deuses é apenas em relação à matéria-prima, pois os pobres mortais que ainda não tiveram o prazer de degustá-lo não concebem, à primeira vista – ou audição – de como os deuses poderiam apreciar uma parte do peixe cheia de ossos e espinhas.

À primeira vista da iguaria, desfaz-se a incerteza com a imagem, saliva-se a boca, aguça-se o paladar, despertando o primeiro dos sete pecados capitais: a gula. Pessoas de gosto refinado e alto conhecimento gastronômico contam que é impossível de controlar os instintos. Chegam ao ponto de afirmar o ato de comer cabeça de robalo, está longe ser ser um pecado capital, e é, sim, uma virtude, pondo por terra a teoria desenvolvida pelo Papa Gregório Magno no século VI.

E têm razão os nobres defensores desta tese. Pra início de conversa, a cabeça de robalo é um prato exclusivo da gastronomia canavieirense, onde os manguezais são considerados os maiores e mais ricos do Brasil, dada a sua diversidade. Não é por acaso que o caranguejo – Ucides cordato – de Canavieiras é tido e havido como o mais gostoso crustáceo de toda a costa brasileira.

E as virtudes gastronômicas da cabeça de robalo ultrapassaram as fronteiras de Canavieiras e Costa do Cacau, chegando a Salvador, Brasília, outros estados e até países. Passou pelas cozinhas e chegou aos salões de banquetes de palácios republicanos e conquistou – definitivamente – a realeza. Por dois anos seguidos o Rei e a Rainha da Suécia, Carlos XVI Gustavo e Sílvia vieram desfrutar do verão de Canavieiras, onde o Rei praticou a pesca do marlim e o casal se deliciou de algumas vezes com a iguaria.

Hoje deitada em berço esplêndido, a cabeça de robalo nasceu em casa tosca, como relata Edelzuita Maria Santana, que aprendeu a preparar esse prato com sua mãe. Aos poucos, a cabeça de robalo deixava de ser apenas um prato inusitado para ganhar status de prazer culinário. Do modesto bar e restaurante “Fundo de Quintal”, ganhou o mundo.

Dona Edelzuíta foi a criadora do prato
mais famoso de Canavieiras
Nas histórias contadas pelo historiador Antônio Tolentino (Tolé), era muito comum eles levarem os colegas do Banco do Brasil para comer a novidade e eles comerem tudo e ainda perguntarem “Quando é que vem essa cabeça de robalo, pois já comemos toda a entrada?”. Para eles isso era motivo de constantes brincadeiras e que ganhava o mundo.

O Raimundo Antônio Tedesco, conta em suas reminiscências, que quando a cabeça de robalo se tornou amplamente conhecida, tentaram até mudar o seu nome para top less, numa alusão à moda criada na Inglaterra em que as mulheres ficam com os seios à mostra na praia. “Mas esse nome não pegou e o que prevaleceu mesmo foi cabeça de robalo.

Surfando na onda do marketing concebido pelo prefeito de Canavieiras à época (e atual), Almir Melo, que cunhou o slogan “Canavieiras para todos, Canes para os íntimos”, a cabeça de robalo também ganhou rápida ascensão. Em um Carnaval, Almir Melo encomendou 600 cabeças de robalo, que foram consumidas vorazmente, para o desespero dos convidados.

O prefeito Almir Melo é muito “cobrado” pelas autoridades, a exemplo de Jaques Wagner e até mesmo do ex-presidente Lula (recentemente em Salvador) quando se encontra com eles. Em Feira de Santana, durante a entrega de caminhões e máquinas aos municípios baianos, até a presidenta Dilma manifestou sua predileção pela iguaria, quando foi informada pelo governador: É ele o prefeito de Canavieiras que nos manda a cabeça de robalo!”, disse Wagner.

E assim a presidenta Dilma deu uma pequena pausa na cerimônia para manifestar seu desejo em voltar a receber uma boa remessa de cabeça de robalo. Na alta corte de Brasília, aliás, faz tempo em que os presidentes se deliciavam com a novidade canavieirense, levada, pelo que dizem, por político Antônio Carlos Magalhães.

Matérias foram elaborados e publicadas nos veículos de comunicação, para o desespero de dona Edelzuita, que não aguentava mais para atender a tantas encomendas. “Almir foi o grande incentivador e divulgador da cabeça de robalo e já cheguei a ir a Salvador, convidada por um dos políticos mais famosos da Bahia, para preparar na festa de casamento. “Foi sucesso absoluto”.

Com o aumento das encomendas – que teria de despachar, inclusive por via aérea –, aos poucos, ela foi passando o conhecimento para outras pessoas e atualmente algumas pessoas se destacam no preparo da cabeça de robalo. Uma delas é Conceição de Oliveira, que diz ser o melhor caranguejo para a cabeça de robalo o catado de dezembro a agosto, principalmente nos meses em que não têm a letra “r” no nome.

Segundo Conceição, é preciso observar a melhor época para preparar a cabeça de robalo, respeitando, inclusive o período do “defeso”. Nesta época, diz ela, somos muito cobradas pelos clientes, mas não podemos transgredir a lei e nem vender um produto que não seja de qualidade.

Gostoso de comer, trabalhoso de fazer. Assim é a cabeça de robalo. Mas é a lei da oferta e da procura, pregada pela economia. No caso de cabeça de robalo, não se economiza atenção na hora de lavar e escovar bem a carapaça, quebrar as pernas e “catar” (tirar a “carne” das patas do caranguejo). Abra a carapaça com uma faquinha e retire tudo que tem dentro, inclusive o fel; tempere as “carnes” até o tempero murchar e recoloque no lugar.

Os temperos são: coentro e cheiro verde, tomate, cebola, pimentão, pimenta-de-cheiro, camarão, biri-biri, leite de coco e dendê. Leve a panela ao fogo, vá colocando o dendê e o leite de coco aos poucos. Deixe cozinhar como moqueca, e com o caldo faça um pirão. Depois é só servir com pirão e arroz branco. Mas, em vez de tentar prepará-lo, se torna mais fácil comprá-lo (congelado) numa das tantas especialistas canavieirenses, ou pronto no Restaurante Alegria de Viver, por exemplo, e desfrutá-lo, à beira-mar. É mais garantido.

E desta maneira, pode usar e abusar dos pecados capitais, a exemplo da luxúria, deixando-se dominar pelas paixões; a preguiça, após comer à vontade; a vaidade, pelo orgulho de ter comido bem … e muito…. Quanto à inveja, deixe que os outros que não provarão possam ter por você. Com certeza, lhe darão razão no futuro.

domingo, 11 de janeiro de 2015

CONFIRMADO: MAL-ASSADO REINOU ABSOLUTO NA CONFRARIA DO BERIMBAU

De volta uma das tradições do primeiro sábado do mês, o mal-assado de Zé do Gás ornamentou balcão, mesas e estômagos. É certo que este mês chegou com um certo atraso, mas promete retornar no dia 7 de fevereiro próximo, com tudo que tem direito.
Tolé faz as honras da casa, cortando o mal-assado

sábado, 10 de janeiro de 2015

SÁBADO SOLENE NA CONFRARIA DO BERIMBAU

Com uma simples canetada a Confraria do Berimbau transferiu o mal-assado do primeiro sábado do mês para hoje, o segundo. A mudança surpreendeu, inclusive, o secretário-geral, Antônio Tolentino (Tolé), que compareceu na data e horário de praxe para a lavração da ata e o colhimento das assinaturas. Ao que tudo indica, neste sábado os confrades não serão surpreendidos com mudanças de última hora.

No sábado (3) foi dia de fartura no Berimbau. Linguiça à Confraria do Alto Beco do Fuxico, muquecas de arraia e meca pra comer. Pra beber a fartura era ainda maior. Uma coisa que eu não sabia era que linguiça com guaraná combinavam, o que foi provado e comprovado por Antônio Amorim Tolentino (Tolé).

Muqueca de Meca salgada trazida por Tedesco e de Arraia, por Pedro Inácio.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

ESCOLHA DOS HOMENAGEADOS DO TROFÉU GALEOTA DE OURO PRECEDIA DE RITUAL LITÚRGICO

Walmir Rosário
Muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Essa pequena passagem da Bíblia (Mateus 22:14) mostra claramente a forma da escolha da seleta lista de homenageados com o Troféu Galeota de Ouro. Ao contrário do que se pensava – e ainda pensam alguns desavisados –, que os distinguidos com a honraria pelos feitos etílicos se dava pela contumácia ou o reles ato de beber e se embriagar diariamente, sem pompas ostentação ou esplendor de dar inveja aos mais acatados abstêmios.
A escolha precedia de um amplo ritual litúrgico, com a finalidade de comprovar e mensurar o trabalho realizado pacientemente pelos olheiros da “Comissão de Observação da Confraria do Berimbau”. A cada ação desastrada cometida pelo indigitado “cachacista” chegada ao conhecimento e ao domínio público, o candidato recebia uma simples advertência, um cartão amarelo e, a depender do escandalizante ato, um cartão vermelho. Dois cartões vermelhos, então se tornava um candidato difícil de ser batido.
Era nesse local que os Confrades escolhiam seus homenageados
Mas como não há nada tão ruim que não possa piorar, a brilhante e implacável Lei de Murphy descia sobre as “cabeças coroadas” como se fossem a verdadeira “espada de Dâmocles”. Mas, pela seriedade e responsabilidade que caracterizava a isenção da escolha dos ganhadores do troféu, a decisão tinha que ser colegiada, após a análise de pesos e medidas estabelecidos.
Tal e qual praticavam as instituições medievais, os membros da Confraria do Berimbau – vestidos a caráter – se reuniam numa salinha escura nos fundos do Tabu, iluminada apenas por uma lamparina a vela, conferindo a escrita de cada verso do cartão, analisando o grau de gravidade. Dois cartões amarelos equivaliam a um vermelho...dois vermelhos então...Mas tinham aqueles que bastava uma falta gravíssima, como a de perder o endereço de casa, trocando a estrada do mar para a da montanha...era bingo.
Algumas faltas chegavam a ser consideradas impublicáveis, como as cometidas na própria casa e que chegam ao domínio público após alguma indiscrição com um vizinho ou parente mais chegado. Alguns outros, pela teimosia dos acometimentos, tiveram que ser considerados “hors concours” pela falta de concorrentes à altura das faltas cometidas e anotadas pelos olheiros do Posto de Observação.
E assim eram escolhidos os distintos honrados com o Troféu Galeota de Ouro, sem privilégios, tráfico de influência ou compra de galões e patentes. Igual ao que preceitua o conceituado Jogo de Bicho: vale o escrito.