Walmir
Rosário*
Calma,
gente, isso acontece lá na Austrália, onde o chocolate serve como
iguaria e tranquilizante para os animais da raçaWagyu
(japonesa),
que são transformados em kobe
beef, uma
das carnes mais saborosas do mundo. E como tudo tem seu preço, um
quilo dessa carne é vendida em todo mundo pelo preço de arrobas que
conseguimos vender por aqui.
Ao
tomar conhecimento dessa notícia,pensei logo nos benefícios que
poderiam trazer à cultura do cacau, com esse incentivo ao consumo do
conhecido manjar dos deuses. Já imaginaram quanto embolsariam a mais
os nossos produtores exportando mais cacau? Marketing a Canavieiras é
o que não falta e teríamos como símbolo a fazenda Cubículo,
primeira plantação de cacau da Bahia.
Mas
ao relembrar as propostas de aumento da produção de cacau através
da elevação do consumo, logo me aquietei pensando no histórico
dessas tentativas anos a fio pelo antigo Conselho Consultivo dos
Produtores de Cacau (CCPC), que trocou o C de Consultivo pelo N de
Nacional.
Ainda
recordo das visitas de nossos conselheiros à China, que tinha como
missão fazer com que apenas 10% dos chineses tomassem apenas uma
pequena xícara diária de chocolate. Entre idas e vindas, a verdade
é que se passeou muito e não conseguiram trocar o sagrado chá dos
chineses pelo nosso cacau.
Uma
lição caseira também me chama a atenção, que seria a introdução
do chocolate na merenda escolar, com pioneiras tentativas, todas
infrutíferas e de redundante fracasso. Não o porquê, mas a verdade
é que essa ideia nunca foi transformada numa política pública, e
não cabe a esse pobre escrevinhador pesquisar. É o papel dos
cacauicultores.
Longe
de mim afirmar – em alto e bom som – que a atitude do pecuarista
australiano não irá produzir resultados positivos para o cacau.
Também não vou sair por aí recomendando a introdução dessa nobre
dieta aos pecuaristas brasileiros. Cabe-me apenas mostrar o que está
sendo feito em terras distantes aos nossos patrícios. E vale a pena
tomar conhecimento.
Antes
de mais delongas, vale explicar que o kobe
beef é
considerada sinônimo de maciez, com gordura marmorizada e sabor
inconfundível, que combina com o paladar dos consumidores que pagam
em dólares e euros. Afinal, esses animais recebem um tratamento de
luxo e carinho, sem falar da alimentação especial que recebem. Nada
mais justo.
Tudo
é uma questão de valor e disposição de pagar, como diriam os
economistas para explicar a disposição desse seleto grupo de
exigentes consumidores. De olho nessa demanda, o pecuarista Scott de
Bruin, do Sul da Austrália, passou a investir na alimentação
desses bovinos, oferecendo grãos especiais e frutas como maçãs.
Para
agregar mais valor ao seu produto, Scott também passou a incluir o
nosso chocolate na dieta do rebanho Wagyu, com a finalidade de
aumentar as calorias consumidas. Com isso, conseguiu – segundo ele
– a elevar o marmoreio da carne, tornando o kobe
beef do
seu rebanho ainda mais especial e de preço alto.
Acreditem
que é a mais pura verdade. O pecuarista australiano consegue servir
essa dieta composta por grãos, frutas e chocolate a todo o seu
rebanho, formado por 7,5 mil cabeças, quando eles atingem os 30
meses. Ao sentir o cheiro do chocolate, as rezes se aproximam e comem
à vontade (acredito que lambendo os beiços, como se diz
popularmente).
Para
o fazendeiro australiano, o consumo do chocolate faz com que o seu
rebanho fique bem alimentado e mais feliz, transferindo esse
bem-estar à qualidade e ao sabor da carne. A qualidade do tratamento
a esses animais não se restringe ao chocolate e eles também ganham
sessões de massagens, acupuntura, ouvem música clássica e dormem
em tapetes térmicos, para que não sofram estresse. Um luxo!
Pelos
meus parcos conhecimentos da pecuária, não sei se o chocolate é o
elixir da felicidade para os nobres animais da raça Wagyu
do Sul da Austrália,
mas de cátedra, posso assegurar que no Brasil não merece confiança
o chocolate por aqui consumido. Com raríssimas exceções, oriundas
de fabricação caseira (artesanal) e pequenas fábricas.
Cada
um tem o sonho de consumo que merece.
Radialista,
jornalista e advogado
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