segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

E O BERIMBAU VOLTOU – COM TODA SUA FAUNA


A clientela voltou ao Berimbau nos dias de sábado
O dia era 13 de dezembro e foi comemorado com todas as honras, até para Santa Luzia, como consta na abertura da ata, lavrada pelo eterno secretário Tolé. Antes, ao raiar do dia, alvorada com fogos, tudo igual como na comemoração do Dia de São Boaventura (15 de julho, data tida e havida como a verdadeira). Afinal, a data tinha que ser comemorada com todas as honras, pois estava de volta o Berimbau, sem o comando físico de Neném de Argemiro, que cedeu o lugar ao casal Zé do Gás e Vera.
Da “fauna” frequentadora, todos presentes conforme a chamada, exceto aqueles que se foram para fazer companhia a Neném. Dos presentes, dois subverteram a ordem: Tolé e Turrão fizeram pouco das cachaças e cerveja, menos Tolé que tentava enganar a galera com uma Brahma sem álcool (um desrespeito a um lugar tão sério). Das ausências, algumas devidamente alegadas por justo motivo, mas com presença garantida para as próximas.
Com mais de 40 anos de experiência no ramo etílico, o Berimbau retorna às atividades mantendo o ritual e todas as liturgias, a exemplo da batida do sino, e do bate-papo puro e desinteressado da vida alheia. Como de sempre, a cachaça, cerveja bem gelada e o mal-assado de sábado. Não faltaram visitas dos clientes que hoje residem outras cidades. Os membros Confraria do Berimbau se fizeram presentes, como antes.

Daqui pra frente todos os sábados serão diferentes.

CONFIRA O ÁLBUM DE FOTOS 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O CASTIGO VEIO DE KOMBI

Walmir Rosário*


O ano era 1977 – salvo melhor juízo – período em que retornei de Salvador para Paraty. À época, a cidade já passava por uma transformação, porém ainda mantinha seu espírito bucólico, em que prevalecia a amizade, apesar da recém-chegada onda consumista. A chegada do progresso era fato e todos queriam se beneficiar dele e de seus efeitos, mas de forma honesta, no pensamento de alguns.

Entre as atividades em ascensão a produção de cachaça era a mais promissora delas, notadamente para quem conhecia do ofício, como Eduardo Mello, o Eduardinho, fiel seguidor dos ensinamentos do seu pai, Antônio Melo, produtor – por anos a fio – da cachaça “Quero Essa”. Com a venda da Fazenda Boa Vista, os novos proprietários – industriais paulistas, creio eu – fechou o alambique, deixando órfãos uma legião de cachacistas apreciadores do bom e precioso néctar da cana.

E nada tirava da cabeça de Eduardinho continuar a desempenhar o mister aprendido por anos e anos, plantando, colhendo, moendo cana e destilando o seu caldo até chegar ao ponto ideal da excelente cachaça. Não é de hoje que a cachaça de Paraty era cantada verso e prosa Brasil afora, e a semelhança não é mera coincidência, Paraty cidade, paraty cachaça, da boa, como convém aos apreciadores mais entendidos.

Até que chegou a oportunidade de ouro para o filho de Antônio Mello. Após várias tentativas, eis que um dos bons produtores de cachaça, o Ormindo, que fabricava a Coqueiro, pretendia se aposentar. Por outro lado, Eduardinho, que se aposentara precocemente e temporariamente, queria voltar a trabalhar, alambicar cachaça, cachaça do mesmo padrão de qualidade da “Quero Essa”, ou da “Vamos Nessa”, feita pelos seus avós. Era o caldo de qualidade, no fogo adequado.

E para “fechar o negócio”, marcamos uma Sexta-feira da Paixão como o “Dia D”. Tudo de forma bem planejada numa das muitas noitadas do Cana Verde. Cerca de meia-noite saímos da boemia com o compromisso de estarmos de prontidão às 6 da manhã no cais e zarpar para o encontro com o Ormindo, na Fazenda Engenho D'água.

No horário aprazado, lá estávamos nós – eu, Eduardinho, seu irmão Neguinho (Antônio Carlos) e Jorginho, este amigo e dono do barco que nos levaria ao então alambique, cujo único meio de comunicação era o marítimo. Apesar de cedo, já encontramos aberto o bar “Bem-me-quer”, do Edmir, e encomendamos nossas provisões (víveres) para a viagem. Do pedido constaram 24 latas de cerveja Skol, carteiras de cigarros (ainda tínhamos esse péssimo vício) e oito sanduíches de filé.

A manipulação dos sanduíches foi prontamente rechaçada pela cozinheira Madalena, que se recusou a cometer tal heresia:

Comer carne na Sexta-feira Santa é um sacrilégio e Deus vai castigar quem fizer e comer – se desesperou Madalena.

Após várias intervenções de Edmir, finalmente, muito a contragosto, Madalena preparou os (mal)ditos sanduíches e rumamos para embarque na Kombi (assim era chamado o barco de Jorginho, pela sua aparência com o veículo fabricado pela Volkswagen). Após umas três cervejas e dois sanduíches de filé, finalmente chegamos à fazenda de Ormindo.

Negócio fechado, comemoramos com mais um litro de Coqueiro e alguns mergulhos no mar. Ao por do sol resolvemos rumar de volta para Paraty, fazendo planos para a mudança do alambique e a nova produção.

Tudo era festa, até notarmos os primeiros sinais de problema no motor da Kombi “flutuante”, que começou a perder força. Diagnóstico feito na hora, era a junta do cabeçote que tinha queimado. Alegres e satisfeitos com a aquisição do alambique, não nos afobamos e a cada cinco ou dez minutos desligávamos o motor até que esfriasse, para navegarmos mais um bom pedaço.

Se os problemas do barco não nos afligia, situação diferente se passava na cidade, após constatado o nosso sumiço. No bar, Madalena não se cansava de pregar os castigos de Deus com os hereges que se atreveram a comer carne na Sexta-feira da Paixão, desafiando os desígnios de Deus. Aos poucos, nossas famílias foram para caís, apavoradas com a demora do regresso, a notícia “corria costa” e as versões superavam o fato.

De boca em boca, Deus tinha feito justiça e castigado os hereges, que perderam-se no mar, naufragando com o peso dos pecados. No mar, cumpríamos nosso “encargo” de navegar e parar para esfriar o motor. Enquanto isso, o povo não arredava o pé do cais, para o desespero de nossas famílias.

Persistentes, nós sobreviventes de um quase acidente marítimo, fomos nos aproximando da cidade. Para nossa alegria, já avistávamos as luzes. Ligávamos o motor...logo em seguida desligávamos, e assim nos aproximávamos do cais.

E esse “calvário” continuou até as 21 horas, quando aportamos, para o alívio e felicidade geral. Âncora ao mar, barco amarrado na ponte, seguimos desfazendo a curiosidade alheia e a bronca das mulheres. E fizemos o primeiro pit stop etílico no “Bem-me-quer”, ponto de origem de toda a fofoca sobre nossas quase mortes no mar da Baía de Paraty.

E, juntos, pedimos ao Edmir uma Coqueiro e à Madalena mais um sanduíche de filé para comemorar a nossa ressurreição!


*Apreciador da boa cachaça.

NO BERIMBAU É ASSIM ...FALTOU, É CITADO POR EDITAL

A direção de o Novo Berimbau, boteco que agora reabre em Canavieiras, enfrenta um sério problema para convidar, ou convocar, como expressa o convite, dos frequentadores, especialmente os membros da Confraria do Berimbau.
Um dos problemas já foi resolvido: "os que passaram desta para melhor", como diz o ditado, serão convocados pelo próprio Neném de Argemiro. Já os que ainda teimam em continuar nesta terra de meu Deus, mas residindo em outras plagas, é não tiveram a convocação resolvida.
Opções várias foram apresentadas, como os telefonemas e o envio de correspondência pelos Correiros, com as características antigas e eventuais. Esta, entretanto, não foi bem aceita, pois os carteiros destas cidades na qual residem os expatriados podem não conhecê-los como no costume anterior.
Mas, do alto de sua sabedoria, o Decano dos Confrades e Decano dos Secretários Municipais, Antônio Amorim Tolentino, consultou o seu Vade Mecum e, com ar eminentemente professoral, determinou: "Ora, está aqui no artigo 3º da Lei de Introdução do Código Civil: "Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece".
E do alto de sua sabedoria, arrematou: "Como se diz no popular, a ninguém é dado o direito de desconhecer a lei, portanto, citem-se os residentes em local incerto e não sabido por edital".
Nada mais disse e não lhe foi perguntado. Apenas cumpriu-se.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Nascimento, vida e morte – a história da Galeota de Ouro em três atos

Walmir Rosário*

Motorista, não se deve dirigir bebendo, você pode derramar a bebida”,
ensinamento deixado pela Confraria do Berimbau para a posteridade.

Desde que o mundo é mundo e nele mora gente ser levado pra casa por um carrinho de mão é sinal de que o cidadão extrapolou na bebida. Na Vila Imperial de Canavieiras – mesmo já emancipada politica e administrativamente – esse costume nunca foi diferente, afinal, os amigos são para essas coisas, ainda mais sendo “levado aos costumes”, no trajeto do boteco para casa.
Artur da Farmácia, o primeiro ganhador do Troféu

O Nascimento - O bancário Kleber Assunção (entre outros indigitados) não dispensava o serviço prestado pelos amigos, assim como outros indigitados bebedores. E essa cena do cotidiano despertou a atenção de um grupo de amigos – craques do mesmo time, ou farinha do mesmo saco – para comemorar tão repetido gesto de solidariedade.

A turma que secava as garrafas do Berimbau, boteco de respeito e que se prezava pelo diversificado estoque de engarrafados, resolveu levar a comemoração ao pé-da-letra, concebendo um evento para distinguir – com as patentes e galardões merecidos – os merecedores de tão importante e significativa honraria.

Para não sofrer as conhecidas pressões de grupos e indivíduos interesseiros e interessados, a primeira reunião foi agendada para a nem tão pomposa Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), com a finalidade de conceber e planejar importante evento. Após discussões intermináveis, não se chegou a consenso algum, pois a embriagues dos pioneiros organizadores não permitiu.

Teimosos e compenetrados em desmoralizar o ditado popular que afirma em alto e bom som de que “padeiro não come pão”, após passada a bebedeira da reunião inicial, Tolé, Tedesco, Tyrone, Juca Seara e Turrão voltaram à carga em novo encontro, desta vez todos desarmados das garrafas de bebidas alcoólicas – enquanto durou o conclave –, admitindo-se apenas a ingestão pura e simples de água mineral sem gás.

Aos que não tiveram nenhum contato físico – ou por ouvir dizer – com o “Troféu Galeota de Ouro”, aqui vai um aviso. A criação evento pela Confraria do Berimbau se dera por dois motivos: o primeiro exclusivamente festivo, na qual sobressaíssem atos de euforia, causados pelo excesso de bebidas, desregramento e libertinagem; o segundo, para continuar ao lado de Neném de Argemiro, dono do boteco e personagem inspirador.

A Vida - Do demorado e complicado “parto”, nasceu, finalmente, o “Troféu Galeota de Ouro”, a ser promovido no segundo domingo de dezembro, data que seria incorporada ao calendário turístico etílico de Canavieiras, com o pretexto de estabelecer a abertura do verão canavieirense. Agora, sim, era chegada a hora da comemoração com muita cerveja.

Plano traçado, projeto escrito e datilografado, bastava correr à rua para conseguir o patrocínio para viabilizar o “Troféu Galeota de Ouro”, que teria como palco o famoso Beco do Berimbau, também apelidada de rua Dr. João de Sá Rodrigues, no conceituadíssimo trecho compreendido entre a esquina de Tião da Kombi até a rua Dr. José Marcelino.

Para quem não lembra, era o ano de 1996. Projeto debaixo do baixo, os próceres da Galeota fecharam o patrocínio e todos os detalhes financeiros foram sendo sanados. Utilizando as mais conhecidas ferramentas de marketing, cada patrocinador, além das logomarcas estampadas nas camisetas, ainda levavam algumas dezenas para oferecer aos clientes e amigos.

O Balcão da Cachaça era cobiçado pelos biriteiros homéricos 
Vencida a primeira e mais dificultosa etapa, não custou muito conseguir a liberação para o fechamento com tapumes do Beco do Berimbau junto ao Poder Público. Na data aprazada, após frequentes e intermináveis reuniões, os homenageados escolhidos e nomes guardados a sete chaves, é chegado o dia.

Não chegou a ser um primor de festa, mas valeu pela alegria, simplicidade e o inusitado da promoção, que escolhia personalidades habituais nos usos e costumes dos botecos da vida e que cometia desatinos etílicos devido ao êxtase causado pela ingestão exagerada de bebidas alcoólicas. Exaltações essas que costumavam chamar a atenção do seleto grupo que compunha a excelsa comissão de observadores da Galeota de Ouro. Neste primeiríssimo ano foi sagrado vencedor Artur da Farmácia, cujo feitos foram grafados em letras garrafais dos anais da Confraria do Berimbau.

Para uns, a glória, para outros, nem tanto. Existiam alguns, que nem mesmo compareciam ao suntuoso evento antes de anunciado os nomes dos distinguidos com tamanha honraria. É certo que mesmo os contumazes biriteiros dignos do domínio público se recolhiam às suas casas ao descobrir a comissão de observadores numa festa de largo, a exemplo dos festejos profanos de São Boaventura. E não era por recato, garanto.

Mas com a diversidade de cachacistas juramentados merecedores da distinção a tamanha honraria, ela passou a ser medida em graus, conforme a intensidade do tresloucado ato cometido, de acordo com a categoria criada pelos confrades. A premiação variava conforme os “micos” cometidos durante o ano em observação.

Além do primeiro vencedor, foram instituídos os troféus para a categoria “Feminina” (a única ganhadora foi Lurdinha Fróes), Conjunto da Obra”, “Casal Bebum”, “In Memoriam”, “Boêmio Visitante” e “Homenagem Especial”. Concorrentes em profusão, mas como diz a Bíblia: “Muitos os chamados, poucos os escolhidos”, o Troféu Galeota de Ouro teve seus dias de glória e reconhecimento local, estadual, nacional e quiçá internacional.

Mas como tudo na terra tem um objetivo a cumprir, seu fim foi decretado em 2002, cujo Troféu somente foi realizado em 2003, por conta de confusões e incompreensões entre os confrades (dizem que foi praga de um padre insatisfeito de sua pretensão). E a vingança foi “maligrina”, como diria o “vampiro brasileiro”, com as constantes marcações e atrasos na realização do troféu. Um desses motivos foi a morte do confrade Aécio da Silva Almeida.

A Morte - Há quem compare o triste fim do Troféu Galeota de Ouro à Torre de Babel, que queria ser maior do que Deus, e que pela desobediência foi transformada numa confusão de línguas em que um não compreendia o outro. Há quem jure, de pés juntos, que a política partidária teria sido a causadora da desagregação dos confrades e não a praga lançada pelo padre, tese que tem merecido diversas considerações científicas a respeito.

No processo de desmoronamento causado pela religião, de acordo com a praga rogada pelo padre – conforme reza a história –, a que diga que um dos confrades, temente a Deus, é bom que se diga, chegou a fazer uma promessa para parar de beber. Pedido ouvido, até hoje o distinto se porta como um abstêmio convicto. Mas Tolé foi apenas uma exceção.

Entre essas reflexões, contam que o principal fato gerador teria sido o afastamento do então prefeito do cargo, fundamento significativo para que dois dos seus colaboradores – Juca Seara e Turrão – não quisessem mais participar da sua organização. Em 2005 foi feita uma nova tentativa de ressuscitar o Troféu Galeota de Ouro em outro local – no Pastinho –, cujo know-how foi cedido a Alvinho e realizado com sucesso, mas que não resistiu à falta de chame, sedução e encanto dos confrades.

Faltava à nova edição do “Troféu Galeota de Ouro” a irreverência da Confraria do Berimbau e a certeza da escolha dos homenageados entre os bebuns que mais aprontaram durante o ano. A escolha, aliás, era um processo exclusivo e burocrático, com a aplicação de “Cartão Amarelo” aos candidatos, culminando com o “Cartão Vermelho”, quando o processo se tornava irreversível aos olhos dos confrades que integravam a Comissão de Observação.

Segundo conta a lenda que corre-costa, nunca se deve misturar religião por política, nem pinguço se arvorar a Deus. A mistura, no máximo, deve se limitar a cachaça com limão.

*Também frequentador do antro


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

CORRESPONDÊNCIA FAMILIAR

A troca de correspondências, há alguns anos, era feita através de cartas, bilhetes e até recado. Alguns, os mais afoitos, não se limitavam a usar esses meios e "diziam na cara". Hoje, com a mudança dos tempos, o e-mail, a mensagem (SMS), twitter, dentre outros meios eletrônicos são mais utilizados. Entretanto, lembraremos, aqui, a correspondência familiar para falar dos amigos, nem que fossem para "tirar um sarro, como foi o caso.
PALAVRAS

Caro primo Tolé:

Meu abraço,

Tenho minhas razões de dizer que todas as palavras terminadas em (ESCO) não prestam.
Indo a Salvador, tem uma parada em Santo Antonio de Jesus para almoço, justamente num restaurante chamado Tedesco (que lástima!).
Deus não me falte sem aquela refeição.
A comida fria, sem sal, a carne com bastante gordura, feijão, arroz e macarrão sem tempero. Aquele fracasso.
Para finalizar veja no verso o nome do Restaurante no recibo. Para melhorar observe no nome do dono. É uma beleza. Para não dizer ao contrário.
Sem mais, o meu abraço.
Do primo Dr. Aécio da Silva Almeida.

UMA COISA INTERESSANTE:

Palavras que não prestam terminadas em ESCO.
Parentesco,
Carnavalesco,
Bradesco e
Tedesco

Palavras terminadas em RIO que prestam:
Brio – vergonha, sentimento e sério.
Império – forte que ninguém derruba.
Solidário – amigo sincero.
Rio – água sagrada para tomar banho.

Osmário – amigo certo, caridoso, respeitador, honesto, amigo do trabalhador e do pobre.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Confraria do Alto Beco do Fuxico veraneia em Canavieiras

Afastado com ânimo definitivo de Itabuna  Alto Beco do Fuxico –, o editor deste blog passa por um prolongado veraneio em Canavieiras. Por falta de atividades no beco de origem, busca novo beco, desta vez em Canavieiras, cidade onde a escassez de beco com militância etílica e gastronômica é gritante.
Em vista dessa inusitada descoberta, abre os trabalhos na Terra Mater do Cacau e mais ainda do caranguejo, na esperança de que um progressista empresário da área gastronômica e etílica se sensibilize e passe a comercializar – num beco desses – produtos para o consumo desse tipo de iguarias.
E por aqui nesta terra plana passa a funcionar o Confraria do Alto Beco do Fuxico, lembrando fatos históricos e os que porventura surgirem, desde que merecedores de divulgação.
Até sempre!

Em Canavieiras, beco já foi local de respeito

Walmir Rosário*

Não que agora não os sejam. Mas é que os tempos mudam e nem sempre os costumes mais antigos costumem acompanhar o modismo. Mas é assim mesmo. Quando digo que o beco – ou seu plural – já foi local de respeito, digo e provo. O próprio Beco do Fuxico – para uns Beco do Progresso (mas que não acho graça) – teve seus dias de glória.
No seu apogeu – e foram muitos anos na crista da onda – era palco de botecos famosos frequentados por quem de direito e tinha negócio para tanto. Outros menos votados também faziam incursões etílicas de pouca monta, mas nem por isso menos importante. Botecos tantos de vizinhança famosa, afinal um nome desses não se empresta – doa ou vende – a-toa.
Tendas – ou oficinas, como queiram – de mestres em alfaiataria, sapataria, quitandeiros e outros especialistas nas artes eram figuras conhecidas por exercerem seus ofícios na dita cuja área, cuja fama ultrapassava mangues e praias, espalhando-se além fronteiras. Era, sobretudo, um local de farto saber e conhecimento.
Sim, isso mesmo, pois em que locais se reuniam esses mestres para falar do dia a dia de suas labutas e da vida alheia? Local mais apropriado do que um boteco, impossível! E implantado no Beco do Fuxico, melhor ainda, pois não existe em qualquer lugar do mundo com tamanha competência, curriculum ou DNA, como queiram.
Mas como tudo que sobe, desce, o Beco não resistiu e as portas ditas do progresso foram sendo fechadas. Com o afastamento dos mestres em ofícios dos mais diversos e a diminuição da frequência do cais do porto, os botecos foram cerrando as portas e se mudando de endereço. Espalharam-se para o Norte, Sul, Leste e Oeste. Bastar dar uma corridinha e conferir in loco.


BECO DO BERIMBAU
O Beco do Berimbau em dia de festa: a Galeota de Ouro
Este, o Berimbau, foi local de resistência da boemia canavieirense por muitos anos. Até que morte nos separe, foi a regra. Enquanto comandado por Neném de Argemiro sentou praça e fez história, contada em prosa e verso – mais prosa do que verso – por conta das verdades melhoradas contadas por um dos membros – ou confrades – mais assíduos: Raimundo Antônio Tedesco, historiador tido e havido como grande conhecedor da arte de contar causos.
Confrade, eu disse, e repito com todas as letras, haja vista o surgimento ou o achamento, no vocabulário de qualquer his(es)toriador que se preze da dita arte. Pois bem, esse foi o nome dado aos frequentadores do boteco O Berimbau, por tomarem parte na Confraria do Berimbau, nome recebido na pia batismal de qualquer botequim que se preze: o pé de balcão.
Mas como anteriormente disse, “até que a morte nos separe”, O Berimbau, de nome e importância na praça, continuou a ser frequentado até a aposentadoria de Neném de Argemiro e sua última viagem à eternidade. Sem Neném, calou-se o trompete, calaram-se os confrades (apesar da teimosia em continuar sentando praça no local). Não se ouve qualquer barulho de copos, não é sentido o olfato do mal-assado.
O silêncio no Beco de O Berimbau ainda ecoa na memória dos que frequentaram o boteco e nas histórias contadas sobre a “Galeota de Ouro”, que por anos a fio escolhia o “melhor entre os piores” para conceder tão humilhante troféu, ou distinta honraria, a depender do distinto. Melhor congraçamento nunca houve antes na história de Canavieiras e que ficou gravado para a posteridade. A cisão entre os confrades enterrou nas cinzas do braseiro onde eram assados os espetinhos de gato oferecidos aos convidados.
Como dizia aquela publicidade antiga: “Bastante imitada, mas nunca igualada”.
ENDEREÇO ANÔNIMO - Hoje, o Beco de O Berimbau faz parte, ou melhor, ostenta no Código de Endereçamento Postal de Canavieiras com nome metido a besta: Rua Dr. João de Sá Rodrigues (nada, absolutamente nada contra o patrono). Mas, nos guardados de um dos confrades, o Antônio Amorim Tolentino (Tolé), está estampado: Beco de O Berimbau, da esquina de Tião da Kombi até a Rua Dr. José Marcelino.

*Blogueiro e apreciador das artes dos comes e bebes.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

BECO DO FUXICO SEM BOTECO…SÓ EM CANAVIEIRAS

Walmir Rosário *
Nada mais enganador do que um título, um nome de rua, ou mesmo de um beco, que não combine com o enunciado. Segundo o Código de Defesa do Consumidor, isso pode ser classificado como propaganda enganosa ou abusiva e como tal deveria ter respaldo jurídico o indigitado que busca as regalias etílicas e gastronômicas num beco com esse nome.
Se, por ventura, não se vislumbre o direito líquido e certo do cliente interessado, que se consagre, pelo menos, a expectativa do direito. E essa relação não se pode ou deve negar ao frequentador desses ambientes bem falados e comentados por toda a sociedade. Mas, querelas à parte, que pelo menos se evite a propagação desses nomes estranhos ao produto, no caso em questão, o Beco.
Mas não é um simples beco. É batizado, crismado e registrado como Beco do Fuxico, portanto, deveria estar acompanhado de todos os atributos inerentes ao nome, como as tendas de serviços prestados pelos profissionais liberais que lidam com artes tanta, a exemplo de barbeiros, sapateiros, alfaiates, bem como empresários de menor porte, como os quitandeiros e donos de botequins. É assim o beco do fuxico em Canavieiras.
Mas nenhum destes senhores pode ser visto nas vetustas casas desse indigitado beco, localizado em pleno centro da cidade, caminho mais curto de quem busca a “passarela do álcool” tida e havida no sítio histórico, lá pras bandas do cais do porto. Caso o cliente – ou paciente – já venha necessitando recompor os líquidos perdidos numa empreitada qualquer, vai ficar na mão.
Definitivamente, o tal do beco do fuxico (grafado propositadamente com letras minúsculas) não é o menor e melhor caminho entre duas retas. Ao contrário, deve ser considerado um caminho tortuoso, perigoso e estranho a qualquer consumidor das iguarias etílicas. Melhor buscar outras rotas, pois ali não encontrará abrigo algum para satisfazer as necessidades do corpo e da alma.
Exemplo mais vivo e vibrante pode ser visto e vivenciado em Itabuna, no Beco do Fuxico, este grafado com iniciais maiúsculas, como manda as regras da Língua Portuguesa, que em pretéritos dias de glórias era dividido em alto beco, médio beco (já extinto, etilicamente falando) e alto Beco. Lá, do ABC da Noite aos Artigos Para Beber, passando pela Confraria do Alto Beco do Fuxico, desfilam garbosamente os apreciadores da arte de levantamento de copo.
Caso buscasse antes uma informação, teria feito uma parada estratégica pelas bandas da rua 13 – que embora as placas nomeie personalidades outras não levadas a sério –, ai, sim teria encontrado o aconchego do tamanho de sua necessidade. Embora seja rua larga e asfaltada, não é o local mais apropriado para a prática das culturas etílicas, não afeita à alta velocidade dos carros, motos e bicicletas e sim ao bate-papo tranquilo e gostoso de uma mesa de bar.
Como para um bom bebedor meia dose não basta, tive que estacionar no passeio da Bomboniere Lua de Mel, sentado a uma confortável cadeira, lata de cerveja na mão, meota de cachaça embaixo dela, longe das vistas de quem não a aprecia e poderia, ainda sair denegrindo a boa imagem da canjebrina ou dos meus bons costumes. E não é por falta de opção. Se por acaso tivesse eu a verve de um Castro Alves diria que bares são semeado à mão cheia, mesmo sem ser um bendito.
Inconformado com tal situação, já propus aos conhecedores da arte de aturar pileques que se debruçassem – não sobre a mesa – ao estudo da possibilidade de abrir desses estabelecimentos que comercializam bebidas e petiscos em artéria de nome tão cativante. E, pelos meus cálculos, não seria um negócio ruim, daqueles praticados pelos dirigentes da Petrobras em Pasadena, pois seria bem fácil arregimentar uma carteira de bons clientes.
Um deles, o José Cloves, está revendo os manuais de administração e já começa a elaborar um plano de negócio para dar cabo a hercúlea empreitada. Agora que busca a reconhecida gratidão após anos de trabalho, nada mal para um ilustre aposentado se livrar da inatividade. Até porque tem prática do serviço e pode se dar ao luxo ao rechaçar a negativa de um cliente em aceitar uma cerveja servida em sua mesa sem que ele tenha pedido, retrucando em alto e bom som.
– Não quer não, pois então a Casa aceita! – E enche o copo até passar a régua.
Confesso que se tal empreendimento venha a ser concretizado faremos uma festança de inauguração com direito a uma reunião de trabalho da Academia de Letras, Artes, Música, Birita, Inutilidades, Quimeras, Utopias e Etc. (Alambique). O presidente Daniel Thame só aguarda a data.
* Apreciador da bela arte